quarta-feira, 26 de junho de 2013

MINHA VIDA - vovó Norma

História contada pela vovó Norma.

Nasci em Petrópolis no dia 10 de janeiro de 1920. Terminado os meus estudos primários até a 6ª. Série, com 13 anos, sai da escola com diploma de grau 10 com louvor.

Durante os anos que estive na escola eu fazia redações em português enquanto cursava a 5ª. Série. Estas eram tão boas que a Diretora do colégio mandava publicar no jornal da cidade, chamado Tribuna de Petrópolis até hoje existente.

A minha assinatura nesta época era Norma Sampaio Francioni. Vi diversas vezes meu nome no jornal assinando minhas redações.

Não tive oportunidade financeira para fazer o ginásio. Pedi então eu mesma para entrar para a Escola de Música Santa Cecília, para aprender a tocar piano. Fui sozinha e matriculei-me, mas a minha alegria durou pouco. Meu pai deixou mamãe com seis filhos pequenos, sendo eu a mais velha com 14 anos.

 Com a saída de papai, mamãe foi vendendo coisas de valor que tínhamos em casa como quadros, louças, moveis, e algumas bandejas de prata. Antes de papai ir embora, nossa vida era normal e eu diria que até muito boa, sempre com carne, galinha, macarronada e muita sobremesa, pois mamãe era exímia em doces por ser mineira.

Quando acabou o dinheiro, fui tirada da Escola de Música. Fiquei triste, decepcionada e chorei muito. Em vez de piano, eu tive que ir para a máquina de costura onde aprendi a costurar num atelier.

Mamãe me arranjava freguesas amigas e eu tive que trabalhar duro e o dinheiro que ganhava era todo para casa, pois a comida era sopa e às vezes só café com pão.

Nessa época mamãe começou a ir a Igreja onde tinha um Frei de nome Luiz Reinh, muito caridoso que dava bolsas de comida para os pobres, e assim a gente ia vivendo (mamãe era protestante).

Por fim, mamãe foi ser cozinheira de família rica e eu fiquei com tanta tristeza disso que emagreci 12 quilos, pois eu tinha 63 e passei para 51. Achei que era muita humilhação para ela que sempre teve empregadas para ajudar. Choramos tanto, eu e mamãe, que ela acabou não suportando tanto trabalho e saiu do emprego.

Eu não estava suportando mais aquela situação, pois mamãe sentia saudades de papai e os filhos também. Ele levou seis meses sem dar notícias e quando soubemos, por pessoas conhecidas, descobrimos que ele estava morando com outra mulher e ela esperava um filho dele.

 Acabaram as pequenas esperanças que mamãe ainda nutria. Dinheiro nem é bom falar porque nunca mandou nenhum.

 Meu avô Sampaio, pai de mamãe, não sabia de nada que se passava, pois ela sentia vergonha e dificuldade de comunicar aquilo ao pai. Nós morávamos em Petrópolis e vovô, em Nova Iguaçu. Um dia mamãe tomou coragem e contou, através de uma carta, tudo o que estava acontecendo conosco.  Ao tomar conhecimento da situação da filha e dos netos, vovô embarcou para Petrópolis assim que leu a carta.

Chegou muito triste e chorou muito com mamãe e os netos abraçados. Deu 200 mil réis, que era muito dinheiro no ano de 1934, e prometeu 500 mil réis todos os meses.

As coisas melhoraram muito, mas eu, como já tinha diversas freguesas, continuei costurando para fora.

Nesta altura dos acontecimentos completei 15 anos em janeiro de 1935 e no carnaval, dia 4 de março, eu conheci José. Ele gostou muito de mim e eu dele. A princípio fiquei um pouco desconfiada devido à diferença de idade, quase 12 anos mais velho e eu pensava que ele poderia ser casado.

Mas o amor venceu a desconfiança. Mamãe foi tomar informações dele no Palácio Rio Negro em Petrópolis onde ele trabalhava quando o Presidente Getúlio Vargas ia passar o verão na cidade.

Nos outros meses, ele trabalhava no Palácio Guanabara no Rio de janeiro. Ficamos mais tranquilas quando soubemos que ele não era casado. Nos víamos sempre aos domingos depois que o verão acabou.

Assim foi o nosso namoro. Na sala, com mamãe e vovó Titina (mãe do meu pai) que morava conosco e sempre nos vigiando. Quando uma saia da sala ficava a outra e vice versa.

 No dia em que completei 16 anos, 10 de janeiro de 1936, ficamos noivos e em 20 de julho do mesmo ano, casamos. Fomos morar em Nova Iguaçu junto com vovô Sampaio.

No dia 20 de abril de 1937 nasceu Paulo, meu primogênito. Estava com 17 anos e já tomando conta da casa, cuidando da criança e o pior é que eu não tinha prática de nada e me embaralhava toda.

Sempre fui chorona e ficava nervosa por não saber lidar com a casa. Tinha um balanço no quintal, numa árvore nos fundos da casa, e quando Paulo dormia eu corria para o balanço e deixava a comida queimar na panela. Aí eu chorava com medo de José brigar comigo porque não sabia fazer nada.

Ao contrário, nunca brigou comigo por causa disto e arranjou uma empregada de seus 35 anos para trabalhar e me ensinar. Aprendi aos trancos e barrancos, os anos passaram e a vida se acomodou.

 No dia 23 de dezembro de 1939, nasceu Vera Regina. Depois, no dia 2 de outubro de 1944 nasceu Alice e no dia 08 de novembro de 1949, nasceu Silas.

Procurei fazer minha parte, sempre ajudando no orçamento doméstico com minhas costuras, vendendo doces em casa, objetos de miniatura japonesa, etc.

Hoje estamos casados há 64 anos, felizes graças a Deus apesar dos problemas de saúde que temos.

São 12 netos, 8 bisnetos, 2 noras, 2 genros e ainda Edson, casado com Carla, Daniela casada com José Paulo, Celi casada com Gustavo, Kelly casada com Flávio e Isabel casada com Fernando César.

                Graças a Deus que até aqui nos ajudou. Amém!

Relato da tia Alice sobre a vovó Norma:

Minha mãe casou-se aos 16 anos e teve 4 filhos: Paulo, Vera Regina, Alice e Silas

Teve muito êxito como mãe, todos os filhos foram estudiosos e nunca teve maiores problemas com a gente. Não era muito afetuosa conosco, era mais preocupada com a nossa saúde, alimentação, e educação. Também não era de passar a mão na cabeça se fizéssemos alguma coisa errada.

Acho que o grande mérito de mamãe foi sua generosidade. Morávamos em MH numa rua que seria hoje um conjunto habitacional para os funcionários públicos. Porém, eram casas boas , com grande quintal e 3 quartos. Uma moradia digna. Ocorre que a grande maioria dos moradores eram pessoas muito mais simples que nós. Família numerosas com 10, 12 e até 20 filhos. Com isso, as mães não se preocupavam ou não tinham tempo para mandar os filhos pra escola. No máximo faziam o primário (hoje até a quinta série). Quando algum vizinho adoecia ou uma mãe ia parir, logo chamavam mamãe para ajudar.

Tinha uma veia artística muito grande. Era poetisa, compositora e cantora. Adorava cantar e ler a revista "Reader Digest", uma espécie de google de hoje em forma de revista. Era primorosa na costura, na cozinha, como vendedora ou o que precisasse fazer em tempos de vacas magras. 

Acolhia a todos que precisassem de um abrigo ou de um prato de comida. Enfim, cumpriu muito bem seu papel de mãe, esposa e ser humano. 


MEU MARIDO JOSÉ - vovó Zé

História contada pela vovó Norma sobre o seu marido.

José de Moraes Sarmento, meu marido, nascido no dia 31 de agosto de 1908 em União dos Palmares, Alagoas, mas foi criado no interior do Estado. Um pouco em União, Rio Largo, Palmeira dos Índios, Bebedouro e também Maceió, a capital. Seus pais eram alagoanos. O pai chamava-se José de Moraes Sarmento e a mãe, Maria Olindina Amorim Sampaio.

A adolescência de José não foi muito alegre, pois aos 17 anos, sua mãe faleceu prematuramente deixando quatro filhos menores: José, Lindinalva, Napoleão e Nestor, os dois últimos já falecidos.

Sem saber o que fazer e sem muita orientação, aceitou um emprego para extrair borracha (seringueiro) no Alto Amazonas. Foi com um grupo de pessoas desconhecidas que se uniram depois no trabalho.

Foi enganado e ficou desiludido. Os patrões (donos da área onde tinha o seringal) exploravam os empregados, pois vendiam os gêneros que eles necessitavam e o salário nunca era suficiente para pagar a dívida que aumentava constantemente, fazendo com que o empregado se transformasse na prática num prisioneiro do patrão.

Passou muita fome na mata e teve que aprender a caçar e pescar para superar as dificuldades da vida que levava. Comeu vários bichos inclusive macacos.

Permaneceu no local por quatro anos e resolveu fugir, pois não havia como se livrar da dívida com o patrão. Era uma empreitada arriscada porque se fosse pego, sofreria maus tratos e poderia até “desaparecer”.

Aliou-se a um casal conhecido e após planejarem a fuga, iniciaram o regresso, remando a noite e escondendo-se na mata durante o dia. Depois de mais de um mês de peripécias, chegaram a Belém do Pará onde cada um foi cuidar da sua vida.

José foi trabalhar na Ford que possuía alguns empreendimentos na Amazônia. Ficou cerca de três anos por lá até que foi chamado para o Exercito com a possibilidade de vir para o Rio de Janeiro, o que foi aceito.

Chegando ao Rio, foi servir na Vila Militar (cavalaria) e morar em Bangu. E lá iniciou um longo romance com o clube de futebol local, o Bangu Atlético Clube, sendo provavelmente o seu mais antigo torcedor.

Na Vila Militar José conheceu o oficial Dr. Luthero Vargas, já falecido. O Dr. Luthero era filho do então Presidente da República, Getulio Vargas. Luthero nessa época prestava o serviço militar como oficial de reserva e posteriormente formou-se em medicina, na Alemanha, tendo se tornado um ortopedista de renome.

José passou a trabalhar para o Dr. Luthero como cavalariço ou ordenança como é mais conhecido. Dr. Luthero gostou muito dele e iniciou-se ali uma longa amizade que rendeu muitos frutos a José. 

Graças a esta amizade, ao dar baixa no exercito, José foi nomeado funcionário da Central do Brasil. Posteriormente foi deslocado para trabalhar no Palácio do Catete, sede do Governo Federal, onde continuou servindo ao Dr. Luthero e à família Vargas.

Prestes ao nosso casamento em 1936, José recebeu de presente do Dr. Luthero, uma nomeação para a Alfândega do Rio de Janeiro, onde trabalhou até se aposentar.

Dr. Luthero ingressou também na carreira política sendo eleito Deputado Federal e José trabalhou muito para ele, inclusive montando um escritório eleitoral em nossa casa, visitado em várias ocasiões pelo Deputado.

José teve no Dr. Luthero o seu anjo protetor em termos profissionais e em contrapartida ajudou-o também na vida política e foram muito amigos até o falecimento do Deputado.

Finalizando, direi que Deus não poderia ter me dado melhor companheiro na minha vida. Bom esposo, dedicado demais a família, pai amoroso e avô coruja de seus netos.

Infelizmente a doença vem gradativamente privando-o das coisas boas da vida, culminando com a perda da visão nos últimos cinco anos. Todos nós, esposa, filhos, netos e até sobrinhos têm procurado com suas presenças proporcionar a ele o conforto espiritual que tanto necessita para enfrentar esta fase da vida.

Tenho ficado sempre ao seu lado pois ele sempre foi muito carinhoso e querido por mim. Eu o amo muito!

Texto da tia Alice:

Meu pai nasceu em União dos Palmares, filho de José de Moraes Sarmento e Maria Olindina Sarmento.
Seu pai foi um simples alferes (acho que correspondia hoje a um soldado da PM). Era um coroa bonito, alto, olhos azuis e totalmente diferente de papai que era quase um caboclo. Tanto que quando mamãe o apresentou a sua família (os Francioni), seu avô italiano disse que ela não se casaria com um negro. 

Bem, papai contava que foi um moleque muito arteiro. Fugia para mergulhar na lagoa de Mundacui (??) e por isso sua mãe batia muito nele. Papai não se referia a mãe com muito amor. Mas, apesar disso, quando ela morreu aos 36 anos, ele que levava muito jeito com carpintaria, fez seu caixão.

Com seis meses de viúvo, meu avô casou-se de novo. Aí meu pai ficou muito enfurecido e saiu de casa aos 16 anos. Levou 10 anos se aventurando pelo Brasil a fora, como seringueiro no amazonas, por exemplo. Até pegar um ita na Bahia e chegar ao Rio de Janeiro de Getúlio Vargas.

Ao chegar aqui foi para Realengo se alistar no exercito. Nessa época, Luthero Vargas, filho de Getúlio, fazia medicina e CPOR justo para onde mandaram papai. Então, se tornou cavalariço dele e seu protegido também.

Quando Luthero terminou seu serviço militar, resolveu levar papai consigo e colocá-lo no Catete (residência oficial de Getúlio), como copeiro dele. Como Getúlio passava as férias de verão em Petrópolis, todos do palácio iam com ele. E foi assim que conheceu mamãe num carnaval. Como presente de casamento, Luthero o nomeou para a alfândega do Rio, onde ficou até sua aposentadoria.
Morreu aos 98 anos.

História que meu pai me contou:

Quando meu pai tinha 4 anos, um dia seu pai chegou muito irritado do trabalho. O chefe tinha feito uma reclamação e falou alguns desaforos para ele. Escutou calado mas saiu jurando vingança. 

Em casa, começou a fazer uma vara (tipo chicote) com arame. Saiu de casa decidido a se vingar, apesar de vovó Norma ter pedido muito para ele não fazer isso. Trabalhou e, no final do dia, esperou o chefe na esquina e deu a maior surra. No dia seguinte foi trabalhar como se nada tivesse acontecido. E é claro que foi preso. Como não voltava pra casa, a vovó Norma começou a se preocupar. 

Acabou descobrindo que ele estava preso mas não pode fazer nada. Junto com a vovó Maria, resolveu procurar o Doutor Lutero no Palácio do Governo. Este quando soube, prontamente resolveu ajudar. Foram juntos para a delegacia mas o delegado não estava. Descobriram que ele estava assistindo um jogo no campo do Vasco. Na mesma hora o Doutor Lutero ligou para o campo e mandou que o recado fosse dado. O funcionário anunciou no auto falante durante o jogo, para todos ouvirem, que era para o delegado voltar para a delegacia com urgência e ele foi solto.

Ele contou que foi preso no Dops e lá ficou com os presos comunistas que tinham sido torturados. Muitos sem as unhas dos pés e das mãos. Ele ficou com esses presos porque era funcionário público


Aniversário de 90 anos ao lado da vovó norma, o neto Pedro e os bisnetos Gabriel, Guilherme e Eduardo

Aniversário de 90 anos ao lado da tia Regina e as netas Luiza e Maria Letícia



MEU FILHO PAULO

História contada pela vovó Norma

Final de gestação, vovó e mamãe estavam comigo a postos. Sabem como é...primeiro filho, primeiro neto, primeiro bisneto. As primeiras e fracas dores começaram domingo 18 de abril de 1937. Amanheci com um peso nos rins e nas pernas. Após o almoço senti dores leves horizontais no baixo ventre irradiando para os rins. As duas avós disseram: é pra hoje!!!

Chamaram logo a parteira, D. Joaquina que já estava tratada. Ela chegou, examinou e disse: é, começou o trabalho de parto mas isso ainda não é pra hoje, deve ser para amanhã a tarde mais ou menos.

Sentia as dores com um sentimento de medo misturado com alegria. Às vezes paravam um tempo, duas horas mais ou menos, para recomeçarem com mais intensidade. Resumindo, passei o domingo e na segunda, as dores violentas chegaram após meia noite de segunda para terça feira.

Justamente às 03h20 da madrugada, no dia 20 de abril, nasceu meu primogênito Paulo. Alegrias!! Todo mundo chorando, me abraçando, dizendo palavras de amor e carinho para mim e meu filho.

Nasceu magrinho, com 2,8kg e muito comprido. Quando o trouxeram de banho tomado, aquela trouxinha tão amada foi que eu tive uma crise de choro com ele em meus braços.

O pai, num canto do quarto, rindo e as lágrimas descendo dos olhos. Primeiro filho homem! Para ele foi uma glória e deixava isto transparecer a todo o momento.

O nome eu escolhi para homenagear um grande amigo nosso de muitos anos. Passado um mês, vovó regressou a Petrópolis com mamãe. Logo depois mamãe voltou para morar conosco uns tempos para me ensinar a lidar com o neném. Trouxe quatro filhos, meus irmãos menores e que foram Yvone, Eunice, Irene e José, tendo deixado meu irmão Célio em Petrópolis morando com os avôs.

Bem, o assunto é Paulo. Ele foi crescendo e eu aprendendo como criá-lo através dos sábios ensinamentos de mamãe.

 Andou com nove meses e já estava mais gordinho. Aos onze meses teve sarampo o qual eu também tive aos 18 anos. Quando fez um ano estava curado e comemoramos alegres com a família toda.

Foi crescendo, muito inteligente, aprendia rápido o que lhe ensinava. Aos seis anos foi para a primeira escola. Nesta época estávamos morando em Olaria e já tínhamos a segunda filha, Vera Regina com três anos e pouco. Mamãe já não morava conosco, pois tinha voltado para Petrópolis.

Veraneávamos todo ano em casa dela. Voltando a Paulinho, eram só elogios que recebíamos dos professores.

Fomos morar em Niterói e ele foi matriculado numa escola particular de D. Amenaide, a qual ficou encantada com ele, aprendendo e cumprindo todos os deveres. Depois foi para outra escola no Cubango, num lugar chamado “Venda das Mulatas”, onde continuou a receber elogios como sempre.

Em Niterói tive minha terceira filha Alice e quando ela fez três anos, compramos uma casa em Marechal Hermes, onde nos instalamos em 1947. Matriculei Paulo e Regina na escola pública Santos Dumont. Os dois irmãos também fizeram bonito nessa escola, cuja professora Da. Dagmar, gostava muito dele e ele também dela.

Terminado o primário, Paulo fez concurso para a Escola Técnica Visconde de Mauá, tendo sido aprovado e matriculado no primeiro ano ginasial. Lá, completou o ginasial e estudou a profissão de carpinteiro, pois todos os alunos tinham que aprender uma profissão.

Formado, aos quinze anos, empregou-se num escritório de contabilidade de um contador chamado Jair do Canto Abreu onde durante um ano aprendeu os fundamentos da contabilidade. Paralelamente  trabalhava também na farmácia São Luiz que ficava embaixo do escritório. Os donos da farmácia eram o senhor Luiz Barone e Edgar Corrêa que ficaram muito amigos de Paulo.

Com o salário de 800,00 cruzeiros que ganhava, matriculou-se no colégio Arte e Instrução, em Cascadura para fazer o curso Científico (segundo grau). Pagava 600,00 cruzeiros de mensalidade e gastava o restante em passagens e pequenas despesas. Não havia inflação e era possível planejar as despesas. O ano era o de 1952.

Eu costurava para fora e ganhava um dinheiro extra que usava na compra de tecidos para fazer as camisas que ele usava e pagava a outra costureira para fazer as calças.

Terminado o científico em 1955, com boas notas, engajou-se no Exército, servindo no CPOR. Durante os anos de 55 e 56, já trabalhava para um amigo do pai, Guilardo Moreira da Rocha onde cuidava dos negócios deste senhor, fazendo pagamentos, cobranças e controles financeiros. A serviço deste senhor, viajou para os EUA, Miami, em novembro de 1956 para efetuar compras de produtos que não existiam no Brasil.

Matriculou-se no curso vestibular para Medicina, que era o seu desejo maior mas por causa da viagem aos EUA, acabou desistindo dos exames. O seu grande amigo Walterlino Gomes da Silva fez o concurso e é médico pneumologista

No CPOR, conheceu alguns colegas que estavam se preparando para o concurso da Escola de formação de oficiais da polícia militar do Distrito Federal (RJ) e resolveu estudar com eles. Fez o concurso e foi aprovado em 11º lugar. Pediu baixa da CPOR em fevereiro de 1958 e ingressou na PM em quatro de março de 1958.

Na PM conseguiu boas notas e foi o primeiro colocado no primeiro ano do curso, mantendo esta posição nos outros dois anos e saindo Aspirante a Oficial em primeiro lugar, em dezembro de 1960.

Recebeu todos os prêmios destinados ao aluno melhor colocado em notas e aproveitamento geral. Sua espada foi-lhe entregue pelo primeiro governador do Estado da Guanabara, senhor Carlos Lacerda. Recebeu ainda a medalha de ouro Duque de Caxias, uma caneta, um relógio de ouro e 10, 000 cruzeiros da CEF.

Aspirante aos 23 anos, já estava noivo de sua futura noiva, Neusa Nogueira Tavares, uma nora muito querida, com quem casou em 13 de maio de 1961.

Tiveram três filhos: Carla, José Paulo e José Carlos os quais já casados propiciaram ao casal cinco netos: Gabriel, Guilherme, Rafael, Eduardo e Bruno.

Paulo após o casamento prosseguiu nos seus estudos à noite tendo feito as Faculdades de Administração e depois de Engenharia Elétrica. Posteriormente fez o Mestrado em Administração pois dedicou-se desde 1975 a lecionar nos cursos noturnos das faculdades.

Prosseguiu sua carreira na Polícia Militar, servindo também no Departamento de Telecomunicações do Estado/Detel, onde por quinze anos desenvolveu um trabalho que lhe rendeu muito prestígio e muitos amigos.

Galgou todos os postos da carreira militar tendo chegado ao posto máximo de coronel, reformando-se em setembro de 1990.

Prosseguiu nas suas atividades de professor, lecionando e coordenando curso superior, estando hoje na Universidade Castelo Branco.

Tem sido um filho muito dedicado, amoroso e muito amigo. Feliz e com orgulho, devo dizer. “Louvado seja o nome de Deus que nunca nos desamparou”

segunda-feira, 24 de junho de 2013

MINHA FILHA REGINA


História contada pela vovó Norma

Depois do nascimento do meu primeiro filho, ainda moramos dois anos em Nova Iguaçu. Após este tempo, compramos uma casa em Nilópolis mas não moramos muito tempo lá. Vendemos a casa e fomos morar em Petrópolis, na casa da minha mãe no bairro do Bingen porque eu estava grávida pela segunda vez.

No dia 22 de dezembro à noite, comecei a sentir as dores do parto e meu irmão Célio foi chamar Dona Leonor, a parteira. Quando ela chegou por volta das 21 horas eu já estava com muitas dores. Ao me examinar ela disse que até meia noite ou mais tardar uma hora, eu estaria livre.

Deu uma hora da manhã, as dores aumentando e os intervalos das contrações cada vez menores. Dona Leonor, já preocupada examinou-me outra vez e falou para meu marido José ir buscar um médico no Hospital Santa Tereza, que ficava próximo de casa.

José perguntou o que estava acontecendo e ela respondeu que a criança estava atravessada na barriga. Disse que sabia fazer o parto, mas que seria muito sofrido porque teria que fazer a criança voltar à posição normal.

O que ficou decidido então é que ela faria o serviço. Então, cada vez que ela introduzia a mão para ir puxando a criança para a posição normal, eu sofria demais, já estava esgotada e só gemia, não gritava mais. Por diversas vezes via tudo escuro mas finalmente, às 07h15 da manhã de 23 de dezembro de 1939 nasceu Vera Regina.

Nesta hora, além da escuridão, vi também estrelas luminosas piscando, verdadeiramente vi estrelas. A parteira pegou a menina e disse: está morta! E deixou-a junto a minha perna esquerda enquanto me dava mais atendimento. Neste momento, senti feito uma raspadinha na minha perna. Levantei a cabeça e vi a perninha da minha filha mexendo. Disse rápido: ela está viva, está viva!

Foi um corre-corre. A parteira levantou-se rápido segurando-a pelos pezinhos e de cabeça para baixo, dando-lhes fortes palmadas. Foi aí que depois de levar umas quatro palmadas que o choro saiu. Depois de tomar banho, com água fervida, álcool e iodo, ela me deu banho e em seguida trouxe a minha segunda trouxinha para que eu visse.

Chorei muito, de admiração, amor, ternura e muitos sentimentos que só as mães sabem como é.

Era lindinha, gorda, de carinha redonda, olhos abertos e grandes, bem separados e estavam me admirando também. Ficou quietinha mas já chupando os dedinhos. Dona Leonor disse: o que você está esperando? Dê de mamar a ela que está com fome e este primeiro leite tem colostro que limpa o organismo e protege contra as doenças nos três primeiros meses.

Ela mamou bastante, arrotou forte, ficou piscando os olhinhos e adormeceu feliz, mas cansada. Sofreu bastante para ver a luz do mundo mas enfim, sentiu-se segura nos meus braços.

No dia seguinte, véspera de Natal, mamãe e Célio levaram-na para pesar no hospital. Tinha cinco quilos só de fralda, quase o dobro do meu primeiro filho que tinha menos de três quilos quando nasceu.

Passei o Natal com ela. Eu tomando canja de galinha e ela mamando bastante.                 Paulinho ficou só na beira da cama me beijando e querendo deitar junto de Regina e não teve ciúmes pelo contrário, ficou bem alegre chamando as visitas para verem o neném.

Regininha, com três meses foi batizada. A madrinha foi Nossa Senhora da Penha, representada por mamãe e Célio meu irmão, o padrinho.

Cada vez mais gordinha e muito gulosa, foi crescendo e dando os primeiros passos que foram dentro de um navio chamado Itanajé quando viajamos os quatro, para Maceió, terra do pai. Ela estava com dez meses.

Foi crescendo, teve algumas doenças próprias da infância mas nada de grave. Entrou para a escola, foi bem aplicada e fazia os seus deveres com atenção. Era teimosa e vaidosa com as roupas que vestia. Ela é quem escolhia as roupas que iria usar. Se eu teimasse em colocar do meu gosto não havia acordo e ela saía vencendo.

Havia divergências entre eu e ela porque somos do mesmo signo, capricórnio, e o ditado “dois bicudos não se beijam”, cabia muito bem para nós. Mas sempre houve amor de ambas as partes.          

Sofreu diversas operações. Na infância foram as amídalas e na adolescência o apêndice. Ficou uma mocinha linda e era admirada por todos que a viam. Começaram a aparecer os paqueradores.

Formou-se professora pela Escola Normal Carmela Dutra em dezembro de 1960.

Ditava a moda com vestidos elegantes e modelos exclusivos de figurinos franceses que eu comprava. Nunca deixei de costurar e quando ela cismava que tinha que botar um determinado modelo do figurino, eu tinha que ir rápido comprar o tecido, sentar na máquina e aprontar.

Foi princesa da primavera do Marã Tênis Clube e era mais bonita que a rainha e a mais bem vestida.

Namorou, paquerou e aos 22 anos casou-se com João Batista Seixas do qual se divorciou mais tarde, tendo o casal tido dois filhos, Gustavo Alberto e Flávio Henrique. Gustavo formou-se na Marinha Mercante, casou-se com a Celi e tem uma filha chamada Gabriela que é muito despachada. Flávio casou-se com a Kelly e tem dois filhos, Lorena e Danilo que são muito bonitos e simpáticos.

Posteriormente conheceu um viúvo, o Ércio que tinha sido seu conhecido na mocidade e resolveram unir-se, tendo desta união resultado o nascimento dos gêmeos Jonas e André que vivem junto com ela.

Após o divórcio com Seixas, fez faculdade na UERJ, formando-se em Geografia. Trabalhou lecionando em escolas da rede pública e também no Colégio Pentágono, na Vila Valqueire. Posteriormente conseguiu transferir-se do quadro de professores para o quadro de fazenda do município do Rio, onde veio a aposentar-se no início da década de 90.

Logo após sua aposentadoria, sofreu uma queda ao tropeçar num cachorro, dentro de casa em Marechal Hermes, Sofreu muito com esta fratura pois os médicos custaram a diagnosticá-la. Felizmente foi operada no Hospital da Polícia Militar e colocou uma prótese total de quadril. Ficou com sequelas que periodicamente lhe trazem grande desconforto e dores.

É católica praticante, tendo frequentado durante muitos anos a Igreja de Nossa Senhora das Graças em Marechal Hermes, onde sempre trabalhou para amparar os pobres.

Posteriormente adquiriu um apartamento na Tijuca, onde reside até a presente data com seus filhos gêmeos que já estão com 22 anos.

É uma pessoa muito caridosa, muito boa filha, mãe e amiga dos pais e irmãos.

Peço a Deus que lhe dê saúde, paz e coragem para enfrentar as dificuldades da vida porque Ele venceu o mundo e para ela assim será.


Graças a Deus que nunca a desamparou. Beijos da mamãe!

sábado, 22 de junho de 2013

MINHA FILHA ALICE

História contada pela vovó Norma

Niterói, fins de 1944. Grávida pela terceira vez, já bem pesada, fui de bonde ao Mercado do Fonseca com minha filha Regina. No dia seguinte, sábado dia 30 de setembro, comecei a sentir as dores do parto. Minha mãe estava comigo para me dar apoio, carinho e me ajudar no evento.

Foi chamada a parteira, Dona Zulmira, mulher de baixa estatura, mas que ninguém calculava a força física que possuía. Examinou-me à tardinha e calculou para domingo a noite estar tudo resolvido.

Passou o domingo e foram aumentando vagarosamente as dores. Dona Zulmira, conversando com a gente para passar o tempo. Na madrugada de segunda as contrações aumentaram e ela me disse que eu iria experimentar um parto diferente dos anteriores. Para isso, já estava preparada lá em casa uma cadeira sem fundos que José retirou.

Pela manhã eu já estava na cama tendo muitas contrações quando Dona Zulmira levou-me para sentar na cadeira, tendo antes tido o cuidado de proteger bem o local para evitar qualquer acidente com a criança.

Ela passou a comandar o parto dizendo-me para só fazer força quando sentisse a contração forte e depois respirar fundo e parar. Às 10 horas a criança já estava prestes a nascer e então fui conduzida para a cama.

Logo a seguir, às 10h00, nascia Alice minha terceira filha no dia 2 de outubro de 1944. Estava empelicada, isto é, envolvida por uma membrana transparente que, segundo a opinião popular, dava sorte.

Era uma gracinha, peso normal aproximado de 3 quilos. Reparei logo que o narizinho dela era igual ao do pai. Cabelinhos lisos, me olhando muito como fez a irmã quando nasceu.

Recebi com muito amor e emoção em meus braços, pela terceira vez na vida, aquela menina embrulhadinha, já de banho tomado e querendo mamar. Fui tomada imenso carinho e dei de mamar até que ela fartou-se, arrotou e dormiu.

José estava emocionado, sorria e chorava ao mesmo tempo, me abraçando e examinando a filhinha para ver se era perfeitinha, como fizemos com seus irmãos.

Chorando também de alegria, estavam no quarto, mamãe, Yvone minha irmã e uma prima da mamãe chamada Magdalena. Esta prima nos ajudou muito tanto com apoio moral quanto financeiro. Magdalena tinha uma filha chamada Alice razão pela qual retribuímos com carinho colocando o mesmo em nossa filha.

Os dois irmãos pequenos estavam encantados com tudo, querendo pegar “só um pouquinho”, o neném. Fizemos o gosto deles e ficaram realizados.

Alice ficou gordinha rapidamente, era gulosa e queria mamar muito Aos seis meses levei um susto ao entrar no quarto e encontrá-la de pé segurando a grade de cama. Levantara-se sozinha sem eu ver.

Uma vizinha, dona Jurema ao vê-la de pé me disse: dona Norma, esta menina é capaz de não se criar, está andando sozinha! Fiquei nervosa, querendo dar minha mão para ela mas ela largava e andava mais depressa.

Cada vez mais bonitinha, foi crescendo e acabou de completar três na os logo após nossa mudança para Marechal Hermes em 30 de setembro de 1947.

Criada junto com seus irmãos maiores cursou escola pública e outra particular, o Curso São José, extinto. Foi sempre muito consciente de seus deveres e muito inteligente.

Aprontava como todas as crianças fazem, mas nada de grave. Ficava raivosa quando seus coleguinhas na rua implicavam com suas pernas finas. Queira até brigar com os garotos.

Fez o primeiro grau no Colégio José Acioly e posteriormente foi para o Colégio Estadual João Alfredo, em Vila Izabel, para cursar o segundo grau.

Estava uma adolescente muito bonita e não concluiu o segundo grau porque decidiu trabalha na Mesbla, só o fazendo depois de casada.

Nesta altura pintaram diversas paqueras, nada de muito sério. Coisas da idade.

Acostumou-se a ir aos fins de semana para Niterói, sua terra natal, ficando em casa de minha irmã Yvone, já falecida. Às vezes ficava na casa de seu irmão Paulo que morava na Tijuca e já estava casado. Passeava bastante, ia aos bailes e era muito requisitada para dançar. Sempre adorou dançar, até hoje.

Na mocidade, adquiriu hábito de fumar, que não era comum na família mas felizmente conseguiu libertar-se do cigarros anos mais tarde.

No casamento de Paulo, conheceu rapidamente o José Fernando Cordeiro, amigo de seu irmão, Oficial da Polícia Militar.

Nas idas a Niterói, na praia de Icaraí, reencontrou-se com José Fernando e iniciaram um namoro. Ficaram noivos e, em 1 de setembro de 1964, casaram-se.

Em 14 de novembro de 1965, nascia o primogênito do casal, Fernando César e em junho de 1966, dia 8, nascia a filha Maria Letícia.

Quando as crianças cresceram, Alice voltou a estudar tendo concluído o segundo grau e ingressado na Faculdade de Psicologia da Gama Filho, onde se formou como Psicóloga.

Sempre foi uma batalhadora, com muita iniciativa e trabalhando sempre para ajudar a sua família.

Ficou muito conhecida na noite carioca ao gerenciar o badalado restaurante Quadrifoglio, na Lagoa.

Tornou-se também exímia motorista, não temendo ruas, estradas e serras.

Boa e carinhosa filha como também esposa e mãe dedicada. Meu genro, Fernando, não poderia ser melhor. É excelente pai e esposo, nos trata com muito carinho e sentimos por ele muito amor, como se fosse mais um filho nosso.

Alice é também uma cozinheira de mão cheia, de forno e fogão. Tem muito bom gosto e requinte nas coisas que faz. Seus almoços e jantares são apreciados pela família e amigos e ela adora receber e organizar festas.

Ao completar 50 anos, preparou uma suculenta feijoada que deixou a todos plenamente satisfeitos.

Fernando Cesar está concluindo a Universidade na UERJ, na área de letras e casou-se com uma moça muito bonita e simpática, chamada Izabel. Ainda não tem filhos.

Quanto a Maria Letícia que não era muito chegada aos estudos quando criança deu a volta por cima na mocidade, formou-se em comunicação, fez mestrado e é jornalista da Globo News e também professora da Universidade Estácio de Sá.

Fernando, embora já aposentado da PM, continua trabalhando com muita dedicação e competência, exercendo há vários anos, cargos de importância no Jornal do Brasil.

Existe um membro novo na família que é um cachorrinho chamado Romário, xodó de Alice e Fernando.

Para concluir, direi que a amo como só mãe sabe amar. Que Deus te proteja e abençoe minha filha. Como ontem, hoje e sempre. Beijos da sua mãe.




sexta-feira, 21 de junho de 2013

MEU FILHO SILAS

História contada pela vovó Norma

De acordo com os médicos e minhas previsões, eu deveria ter meu quarto filho em meados de outubro. De fato, fui ao hospital dos servidores de Estado, localizado na zona portuária do Rio, por três vezes e nada resolvido. Eram rebates falsos, como diziam os médicos.

No dia 07 de novembro de 1949, voltei ao hospital pela quarta vez, já com 22 dias passados da data prevista. Ao ser examinada o médico disse: já começou o trabalho de parto mas não é ainda tara hoje. A senhora volte amanhã para ser internada. Eu respondi que estava com muitas dores, que morava longe e que ficaria deitada no banco do hospital, pois alegaram que não tinha vaga naquele dia.

Acontece que José tinha com ele, uma carta do Secretário do Presidente da República, na época o General Eurico Gaspar Dutra, e ainda não tinha feito menção dela. Resolveu mostrar na secretaria do hospital. A carta simplesmente mandava que internassem, Foi um corre-corre...o senhor quer apartamento? Quarto particular? O senhor é quem resolve! Eu disse: quem resolve sou eu! Quero ficar na enfermaria geral para ter companheiras perto.

Fui internada imediatamente e vieram quatro médicos que não saiam de perto de mim, revezando-se de meia em meia hora para perguntarem como estava.

Cheguei à enfermaria por volta de 9 horas da manhã e as dores apertaram ao anoitecer. À meia noite me colocaram numa maca pois se aproximava a hora. Ficaram na sala de parto três médicos. As dores já eram bem violentas, a espaços curtos.

O chefe da equipe, Dr. Florisval de Olivais, já estava cansado, imagine eu! Nada da criança nascer. Quando as dores davam um alívio eu não tirava os olhos da parede onde tinham colocado um aviso: coletar a placenta de Norma F. Sarmento e congelar. Perguntei ao médico o que havia com a minha placenta e ele respondeu que tinham várias pessoas esperando por uma placenta boa, sem sífilis ou outra doença ruim, para fazerem operação de córnea. Falou que a minha placenta era perfeita para isso, devido à constatação feita nos exames durante o pré natal. Fiquei aliviada.

Às oito horas da manhã, chegou o quarto médico que ficou a minha cabeceira e com as duas mãos apertava e empurrava a barriga para baixo, enquanto o chefe esperava para aparar a criança.

As 8h15 começou a nascer e o médico disse: para!! Pare de fazer força porque eu tenho que desenrolar o fio umbilical que está em volta do pescoço. Conseguiu rápido e Silas nasceu.

Foi passado de mãos em mãos de seis pediatras espantados com o garoto que não tinha “fontanelas” ou moleira, como é conhecida. Eles comentavam: é cabeça dura mesmo, o pai é nordestino? A senhora passava por baixo de escadas? Por isso que a senhora veio tantas vezes ao hospital com dores fortes; era o cordão umbilical impedindo o garoto de fazer força e nesta situação a moleira fechou. Esta cabeça dura vai ser muito inteligente! Acertaram.

No hospital não deram banho como em casa, mas fizeram uma assepsia, botaram a roupinha que levei e pela quarta vez na minha vida, com quase 30 anos, recebi meu neném feito uma trouxinha, como os três irmãos anteriores.

Amei-o assim que o vi e segurando-o nos meus braços, dei de mamar e aproveitei para passar uma “revista” para ver se era perfeitinho, inclusive passei a mão na cabeça e estava realmente com os ossos fechados. Perguntei ao médico: isso tem perigo? Nenhum, respondeu ele. O garoto é normal, fique tranquila.

Com cinco dias levei-o para casa em Marechal Hermes, onde foi criado. O pai estava rindo à toa, porque depois de Paulo nasceram duas meninas com espaço de cinco anos de uma para outra.

Colocamos o nome de Silas, porque sou religiosa e na Bíblia está escrito que o apóstolo Paulo tinha um companheiro de nome Silas, razão pela qual decidimos chamá-lo assim.

Desde cedo, demonstrou ser muito inteligente e despachado. Era bem extrovertido e demonstrou dotes artísticos musicais que foram se fortalecendo ao longo da sua vida. No colégio tinha notas altas e foi um garoto e depois um adolescente bonitão.

Estudou sempre em colégios públicos e obteve excelentes resultados nos concursos que fez. Conseguiu ser aprovado na Escola Nacional de Química da UFRJ, saindo direto do colégio, sem fazer cursinho. O exame que fez era muito difícil e as poucas vagas foram preenchidas pelos melhores candidatos onde ele se incluiu.

Profissionalmente, trabalhou no início da carreira como Perito criminal e posteriormente fez concurso para a Shell sendo aprovado com méritos e enviado para São Paulo, onde morou e trabalhou por muitos anos.

Apesar do trabalho, nunca se afastou da música sempre compondo e participando de festivais estudantis. Até hoje a música exerce uma grande influência em sua vida.

Casou-se com Ana Maria, uma moça muito inteligente, bonita e que também trabalha para ajudar a família.

Tiveram três filhos: Julia, Luiza e Pedro, todos muito bonitos e inteligentes. Demonstraram desde cedo pendores artísticos, seguindo a veia artística do pai. As meninas dedicaram-se ao teatro e a TV e o Pedrinho tem um grande potencial para a poesia.

Depois de muitos anos dedicados as empresas de petróleo, Silas desenvolveu também atividades empresariais próprias. Sempre procurando o “porque” das coisas, demonstrando muitos conhecimentos sobre vários campos do saber e com muito interesse sobre os mistérios da vida.               

Hoje moram em Copacabana com Silas trabalhando para o Governo e Ana para o Banco do Brasil. Formam uma família muito bonita, simpática e amiga. Possuem muitos amigos e gostam muito de curtir música.

É um filho muito querido e meu amigo. Ana também tem sido uma pessoa exemplar e eu tenho muito amor por ela e por meus netos.


Diariamente, peço a Deus que os abençoem e os façam muito felizes!