História contada pela vovó Norma sobre o seu marido.
José de Moraes Sarmento, meu marido, nascido no dia 31 de agosto de 1908 em União dos Palmares, Alagoas, mas foi criado no interior do Estado. Um pouco em União, Rio Largo, Palmeira dos Índios, Bebedouro e também Maceió, a capital. Seus pais eram alagoanos. O pai chamava-se José de Moraes Sarmento e a mãe, Maria Olindina Amorim Sampaio.
A adolescência de José não foi muito alegre, pois aos 17 anos, sua mãe faleceu prematuramente deixando quatro filhos menores: José, Lindinalva, Napoleão e Nestor, os dois últimos já falecidos.
Sem saber o que fazer e sem muita orientação, aceitou um emprego para extrair borracha (seringueiro) no Alto Amazonas. Foi com um grupo de pessoas desconhecidas que se uniram depois no trabalho.
Foi enganado e ficou desiludido. Os patrões (donos da área onde tinha o seringal) exploravam os empregados, pois vendiam os gêneros que eles necessitavam e o salário nunca era suficiente para pagar a dívida que aumentava constantemente, fazendo com que o empregado se transformasse na prática num prisioneiro do patrão.
Passou muita fome na mata e teve que aprender a caçar e pescar para superar as dificuldades da vida que levava. Comeu vários bichos inclusive macacos.
Permaneceu no local por quatro anos e resolveu fugir, pois não havia como se livrar da dívida com o patrão. Era uma empreitada arriscada porque se fosse pego, sofreria maus tratos e poderia até “desaparecer”.
Aliou-se a um casal conhecido e após planejarem a fuga, iniciaram o regresso, remando a noite e escondendo-se na mata durante o dia. Depois de mais de um mês de peripécias, chegaram a Belém do Pará onde cada um foi cuidar da sua vida.
José foi trabalhar na Ford que possuía alguns empreendimentos na Amazônia. Ficou cerca de três anos por lá até que foi chamado para o Exercito com a possibilidade de vir para o Rio de Janeiro, o que foi aceito.
Chegando ao Rio, foi servir na Vila Militar (cavalaria) e morar em Bangu. E lá iniciou um longo romance com o clube de futebol local, o Bangu Atlético Clube, sendo provavelmente o seu mais antigo torcedor.
Na Vila Militar José conheceu o oficial Dr. Luthero Vargas, já falecido. O Dr. Luthero era filho do então Presidente da República, Getulio Vargas. Luthero nessa época prestava o serviço militar como oficial de reserva e posteriormente formou-se em medicina, na Alemanha, tendo se tornado um ortopedista de renome.
José passou a trabalhar para o Dr. Luthero como cavalariço ou ordenança como é mais conhecido. Dr. Luthero gostou muito dele e iniciou-se ali uma longa amizade que rendeu muitos frutos a José.
Graças a esta amizade, ao dar baixa no exercito, José foi nomeado funcionário da Central do Brasil. Posteriormente foi deslocado para trabalhar no Palácio do Catete, sede do Governo Federal, onde continuou servindo ao Dr. Luthero e à família Vargas.
Prestes ao nosso casamento em 1936, José recebeu de presente do Dr. Luthero, uma nomeação para a Alfândega do Rio de Janeiro, onde trabalhou até se aposentar.
Dr. Luthero ingressou também na carreira política sendo eleito Deputado Federal e José trabalhou muito para ele, inclusive montando um escritório eleitoral em nossa casa, visitado em várias ocasiões pelo Deputado.
José teve no Dr. Luthero o seu anjo protetor em termos profissionais e em contrapartida ajudou-o também na vida política e foram muito amigos até o falecimento do Deputado.
Finalizando, direi que Deus não poderia ter me dado melhor companheiro na minha vida. Bom esposo, dedicado demais a família, pai amoroso e avô coruja de seus netos.
Infelizmente a doença vem gradativamente privando-o das coisas boas da vida, culminando com a perda da visão nos últimos cinco anos. Todos nós, esposa, filhos, netos e até sobrinhos têm procurado com suas presenças proporcionar a ele o conforto espiritual que tanto necessita para enfrentar esta fase da vida.
Tenho ficado sempre ao seu lado pois ele sempre foi muito carinhoso e querido por mim. Eu o amo muito!
Meu pai nasceu em União dos Palmares, filho de José de Moraes Sarmento e Maria Olindina Sarmento.
Seu pai foi um simples alferes (acho que correspondia hoje a um soldado da PM). Era um coroa bonito, alto, olhos azuis e totalmente diferente de papai que era quase um caboclo. Tanto que quando mamãe o apresentou a sua família (os Francioni), seu avô italiano disse que ela não se casaria com um negro.
Bem, papai contava que foi um moleque muito arteiro. Fugia para mergulhar na lagoa de Mundacui (??) e por isso sua mãe batia muito nele. Papai não se referia a mãe com muito amor. Mas, apesar disso, quando ela morreu aos 36 anos, ele que levava muito jeito com carpintaria, fez seu caixão.
Com seis meses de viúvo, meu avô casou-se de novo. Aí meu pai ficou muito enfurecido e saiu de casa aos 16 anos. Levou 10 anos se aventurando pelo Brasil a fora, como seringueiro no amazonas, por exemplo. Até pegar um ita na Bahia e chegar ao Rio de Janeiro de Getúlio Vargas.
Ao chegar aqui foi para Realengo se alistar no exercito. Nessa época, Luthero Vargas, filho de Getúlio, fazia medicina e CPOR justo para onde mandaram papai. Então, se tornou cavalariço dele e seu protegido também.
Quando Luthero terminou seu serviço militar, resolveu levar papai consigo e colocá-lo no Catete (residência oficial de Getúlio), como copeiro dele. Como Getúlio passava as férias de verão em Petrópolis, todos do palácio iam com ele. E foi assim que conheceu mamãe num carnaval. Como presente de casamento, Luthero o nomeou para a alfândega do Rio, onde ficou até sua aposentadoria.
Morreu aos 98 anos.
História que meu pai me contou:
Quando meu pai tinha 4 anos, um dia seu pai chegou muito irritado do trabalho. O chefe tinha feito uma reclamação e falou alguns desaforos para ele. Escutou calado mas saiu jurando vingança.
Em casa, começou a fazer uma vara (tipo chicote) com arame. Saiu de casa decidido a se vingar, apesar de vovó Norma ter pedido muito para ele não fazer isso. Trabalhou e, no final do dia, esperou o chefe na esquina e deu a maior surra. No dia seguinte foi trabalhar como se nada tivesse acontecido. E é claro que foi preso. Como não voltava pra casa, a vovó Norma começou a se preocupar.
Acabou descobrindo que ele estava preso mas não pode fazer nada. Junto com a vovó Maria, resolveu procurar o Doutor Lutero no Palácio do Governo. Este quando soube, prontamente resolveu ajudar. Foram juntos para a delegacia mas o delegado não estava. Descobriram que ele estava assistindo um jogo no campo do Vasco. Na mesma hora o Doutor Lutero ligou para o campo e mandou que o recado fosse dado. O funcionário anunciou no auto falante durante o jogo, para todos ouvirem, que era para o delegado voltar para a delegacia com urgência e ele foi solto.
Ele contou que foi preso no Dops e lá ficou com os presos comunistas que tinham sido torturados. Muitos sem as unhas dos pés e das mãos. Ele ficou com esses presos porque era funcionário público
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