sexta-feira, 21 de junho de 2013

MEU FILHO SILAS

História contada pela vovó Norma

De acordo com os médicos e minhas previsões, eu deveria ter meu quarto filho em meados de outubro. De fato, fui ao hospital dos servidores de Estado, localizado na zona portuária do Rio, por três vezes e nada resolvido. Eram rebates falsos, como diziam os médicos.

No dia 07 de novembro de 1949, voltei ao hospital pela quarta vez, já com 22 dias passados da data prevista. Ao ser examinada o médico disse: já começou o trabalho de parto mas não é ainda tara hoje. A senhora volte amanhã para ser internada. Eu respondi que estava com muitas dores, que morava longe e que ficaria deitada no banco do hospital, pois alegaram que não tinha vaga naquele dia.

Acontece que José tinha com ele, uma carta do Secretário do Presidente da República, na época o General Eurico Gaspar Dutra, e ainda não tinha feito menção dela. Resolveu mostrar na secretaria do hospital. A carta simplesmente mandava que internassem, Foi um corre-corre...o senhor quer apartamento? Quarto particular? O senhor é quem resolve! Eu disse: quem resolve sou eu! Quero ficar na enfermaria geral para ter companheiras perto.

Fui internada imediatamente e vieram quatro médicos que não saiam de perto de mim, revezando-se de meia em meia hora para perguntarem como estava.

Cheguei à enfermaria por volta de 9 horas da manhã e as dores apertaram ao anoitecer. À meia noite me colocaram numa maca pois se aproximava a hora. Ficaram na sala de parto três médicos. As dores já eram bem violentas, a espaços curtos.

O chefe da equipe, Dr. Florisval de Olivais, já estava cansado, imagine eu! Nada da criança nascer. Quando as dores davam um alívio eu não tirava os olhos da parede onde tinham colocado um aviso: coletar a placenta de Norma F. Sarmento e congelar. Perguntei ao médico o que havia com a minha placenta e ele respondeu que tinham várias pessoas esperando por uma placenta boa, sem sífilis ou outra doença ruim, para fazerem operação de córnea. Falou que a minha placenta era perfeita para isso, devido à constatação feita nos exames durante o pré natal. Fiquei aliviada.

Às oito horas da manhã, chegou o quarto médico que ficou a minha cabeceira e com as duas mãos apertava e empurrava a barriga para baixo, enquanto o chefe esperava para aparar a criança.

As 8h15 começou a nascer e o médico disse: para!! Pare de fazer força porque eu tenho que desenrolar o fio umbilical que está em volta do pescoço. Conseguiu rápido e Silas nasceu.

Foi passado de mãos em mãos de seis pediatras espantados com o garoto que não tinha “fontanelas” ou moleira, como é conhecida. Eles comentavam: é cabeça dura mesmo, o pai é nordestino? A senhora passava por baixo de escadas? Por isso que a senhora veio tantas vezes ao hospital com dores fortes; era o cordão umbilical impedindo o garoto de fazer força e nesta situação a moleira fechou. Esta cabeça dura vai ser muito inteligente! Acertaram.

No hospital não deram banho como em casa, mas fizeram uma assepsia, botaram a roupinha que levei e pela quarta vez na minha vida, com quase 30 anos, recebi meu neném feito uma trouxinha, como os três irmãos anteriores.

Amei-o assim que o vi e segurando-o nos meus braços, dei de mamar e aproveitei para passar uma “revista” para ver se era perfeitinho, inclusive passei a mão na cabeça e estava realmente com os ossos fechados. Perguntei ao médico: isso tem perigo? Nenhum, respondeu ele. O garoto é normal, fique tranquila.

Com cinco dias levei-o para casa em Marechal Hermes, onde foi criado. O pai estava rindo à toa, porque depois de Paulo nasceram duas meninas com espaço de cinco anos de uma para outra.

Colocamos o nome de Silas, porque sou religiosa e na Bíblia está escrito que o apóstolo Paulo tinha um companheiro de nome Silas, razão pela qual decidimos chamá-lo assim.

Desde cedo, demonstrou ser muito inteligente e despachado. Era bem extrovertido e demonstrou dotes artísticos musicais que foram se fortalecendo ao longo da sua vida. No colégio tinha notas altas e foi um garoto e depois um adolescente bonitão.

Estudou sempre em colégios públicos e obteve excelentes resultados nos concursos que fez. Conseguiu ser aprovado na Escola Nacional de Química da UFRJ, saindo direto do colégio, sem fazer cursinho. O exame que fez era muito difícil e as poucas vagas foram preenchidas pelos melhores candidatos onde ele se incluiu.

Profissionalmente, trabalhou no início da carreira como Perito criminal e posteriormente fez concurso para a Shell sendo aprovado com méritos e enviado para São Paulo, onde morou e trabalhou por muitos anos.

Apesar do trabalho, nunca se afastou da música sempre compondo e participando de festivais estudantis. Até hoje a música exerce uma grande influência em sua vida.

Casou-se com Ana Maria, uma moça muito inteligente, bonita e que também trabalha para ajudar a família.

Tiveram três filhos: Julia, Luiza e Pedro, todos muito bonitos e inteligentes. Demonstraram desde cedo pendores artísticos, seguindo a veia artística do pai. As meninas dedicaram-se ao teatro e a TV e o Pedrinho tem um grande potencial para a poesia.

Depois de muitos anos dedicados as empresas de petróleo, Silas desenvolveu também atividades empresariais próprias. Sempre procurando o “porque” das coisas, demonstrando muitos conhecimentos sobre vários campos do saber e com muito interesse sobre os mistérios da vida.               

Hoje moram em Copacabana com Silas trabalhando para o Governo e Ana para o Banco do Brasil. Formam uma família muito bonita, simpática e amiga. Possuem muitos amigos e gostam muito de curtir música.

É um filho muito querido e meu amigo. Ana também tem sido uma pessoa exemplar e eu tenho muito amor por ela e por meus netos.


Diariamente, peço a Deus que os abençoem e os façam muito felizes!


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