História contada pela vovó Norma
Final de gestação, vovó e mamãe estavam comigo a postos. Sabem como é...primeiro filho, primeiro neto, primeiro bisneto. As primeiras e fracas dores começaram domingo 18 de abril de 1937. Amanheci com um peso nos rins e nas pernas. Após o almoço senti dores leves horizontais no baixo ventre irradiando para os rins. As duas avós disseram: é pra hoje!!!
Chamaram logo a parteira, D. Joaquina que já estava tratada. Ela chegou, examinou e disse: é, começou o trabalho de parto mas isso ainda não é pra hoje, deve ser para amanhã a tarde mais ou menos.
Sentia as dores com um sentimento de medo misturado com alegria. Às vezes paravam um tempo, duas horas mais ou menos, para recomeçarem com mais intensidade. Resumindo, passei o domingo e na segunda, as dores violentas chegaram após meia noite de segunda para terça feira.
Justamente às 03h20 da madrugada, no dia 20 de abril, nasceu meu primogênito Paulo. Alegrias!! Todo mundo chorando, me abraçando, dizendo palavras de amor e carinho para mim e meu filho.
Nasceu magrinho, com 2,8kg e muito comprido. Quando o trouxeram de banho tomado, aquela trouxinha tão amada foi que eu tive uma crise de choro com ele em meus braços.
O pai, num canto do quarto, rindo e as lágrimas descendo dos olhos. Primeiro filho homem! Para ele foi uma glória e deixava isto transparecer a todo o momento.
O nome eu escolhi para homenagear um grande amigo nosso de muitos anos. Passado um mês, vovó regressou a Petrópolis com mamãe. Logo depois mamãe voltou para morar conosco uns tempos para me ensinar a lidar com o neném. Trouxe quatro filhos, meus irmãos menores e que foram Yvone, Eunice, Irene e José, tendo deixado meu irmão Célio em Petrópolis morando com os avôs.
Bem, o assunto é Paulo. Ele foi crescendo e eu aprendendo como criá-lo através dos sábios ensinamentos de mamãe.
Andou com nove meses e já estava mais gordinho. Aos onze meses teve sarampo o qual eu também tive aos 18 anos. Quando fez um ano estava curado e comemoramos alegres com a família toda.
Foi crescendo, muito inteligente, aprendia rápido o que lhe ensinava. Aos seis anos foi para a primeira escola. Nesta época estávamos morando em Olaria e já tínhamos a segunda filha, Vera Regina com três anos e pouco. Mamãe já não morava conosco, pois tinha voltado para Petrópolis.
Veraneávamos todo ano em casa dela. Voltando a Paulinho, eram só elogios que recebíamos dos professores.
Fomos morar em Niterói e ele foi matriculado numa escola particular de D. Amenaide, a qual ficou encantada com ele, aprendendo e cumprindo todos os deveres. Depois foi para outra escola no Cubango, num lugar chamado “Venda das Mulatas”, onde continuou a receber elogios como sempre.
Em Niterói tive minha terceira filha Alice e quando ela fez três anos, compramos uma casa em Marechal Hermes, onde nos instalamos em 1947. Matriculei Paulo e Regina na escola pública Santos Dumont. Os dois irmãos também fizeram bonito nessa escola, cuja professora Da. Dagmar, gostava muito dele e ele também dela.
Terminado o primário, Paulo fez concurso para a Escola Técnica Visconde de Mauá, tendo sido aprovado e matriculado no primeiro ano ginasial. Lá, completou o ginasial e estudou a profissão de carpinteiro, pois todos os alunos tinham que aprender uma profissão.
Formado, aos quinze anos, empregou-se num escritório de contabilidade de um contador chamado Jair do Canto Abreu onde durante um ano aprendeu os fundamentos da contabilidade. Paralelamente trabalhava também na farmácia São Luiz que ficava embaixo do escritório. Os donos da farmácia eram o senhor Luiz Barone e Edgar Corrêa que ficaram muito amigos de Paulo.
Com o salário de 800,00 cruzeiros que ganhava, matriculou-se no colégio Arte e Instrução, em Cascadura para fazer o curso Científico (segundo grau). Pagava 600,00 cruzeiros de mensalidade e gastava o restante em passagens e pequenas despesas. Não havia inflação e era possível planejar as despesas. O ano era o de 1952.
Eu costurava para fora e ganhava um dinheiro extra que usava na compra de tecidos para fazer as camisas que ele usava e pagava a outra costureira para fazer as calças.
Terminado o científico em 1955, com boas notas, engajou-se no Exército, servindo no CPOR. Durante os anos de 55 e 56, já trabalhava para um amigo do pai, Guilardo Moreira da Rocha onde cuidava dos negócios deste senhor, fazendo pagamentos, cobranças e controles financeiros. A serviço deste senhor, viajou para os EUA, Miami, em novembro de 1956 para efetuar compras de produtos que não existiam no Brasil.
Matriculou-se no curso vestibular para Medicina, que era o seu desejo maior mas por causa da viagem aos EUA, acabou desistindo dos exames. O seu grande amigo Walterlino Gomes da Silva fez o concurso e é médico pneumologista
No CPOR, conheceu alguns colegas que estavam se preparando para o concurso da Escola de formação de oficiais da polícia militar do Distrito Federal (RJ) e resolveu estudar com eles. Fez o concurso e foi aprovado em 11º lugar. Pediu baixa da CPOR em fevereiro de 1958 e ingressou na PM em quatro de março de 1958.
Na PM conseguiu boas notas e foi o primeiro colocado no primeiro ano do curso, mantendo esta posição nos outros dois anos e saindo Aspirante a Oficial em primeiro lugar, em dezembro de 1960.
Recebeu todos os prêmios destinados ao aluno melhor colocado em notas e aproveitamento geral. Sua espada foi-lhe entregue pelo primeiro governador do Estado da Guanabara, senhor Carlos Lacerda. Recebeu ainda a medalha de ouro Duque de Caxias, uma caneta, um relógio de ouro e 10, 000 cruzeiros da CEF.
Aspirante aos 23 anos, já estava noivo de sua futura noiva, Neusa Nogueira Tavares, uma nora muito querida, com quem casou em 13 de maio de 1961.
Tiveram três filhos: Carla, José Paulo e José Carlos os quais já casados propiciaram ao casal cinco netos: Gabriel, Guilherme, Rafael, Eduardo e Bruno.
Paulo após o casamento prosseguiu nos seus estudos à noite tendo feito as Faculdades de Administração e depois de Engenharia Elétrica. Posteriormente fez o Mestrado em Administração pois dedicou-se desde 1975 a lecionar nos cursos noturnos das faculdades.
Prosseguiu sua carreira na Polícia Militar, servindo também no Departamento de Telecomunicações do Estado/Detel, onde por quinze anos desenvolveu um trabalho que lhe rendeu muito prestígio e muitos amigos.
Galgou todos os postos da carreira militar tendo chegado ao posto máximo de coronel, reformando-se em setembro de 1990.
Prosseguiu nas suas atividades de professor, lecionando e coordenando curso superior, estando hoje na Universidade Castelo Branco.
Tem sido um filho muito dedicado, amoroso e muito amigo. Feliz e com orgulho, devo dizer. “Louvado seja o nome de Deus que nunca nos desamparou”
Nenhum comentário:
Postar um comentário