quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Maria Sampaio - a bisa

Relato da tia Alice

Eu tive uma avó inesquecível. Era o protótipo da avó: gordinha e mineira. Estava sempre de avental fazendo suas delícias na cozinha. Adorava fazer doce, cocada, paçoca e muito mais. Eu pensava que toda avó era gorda e boa. E as magras, achava que eram más como as bruxas.

Vovó se chamava Maria Augusta e foi uma pessoa muito sofrida. Eu cresci ouvindo suas histórias e descobrindo que meus antepassados eram uma mistura de índios, portugueses, italianos e irlandeses. 

Existia uma família em Campos dos Goitacazes, no interior do Rio de Janeiro, que era muito tradicional e rica. Carolina (ou Maria Luiza) de Almeida Sampaio era a matriarca que, além de cuidar de suas terras, tinha  um Hotel muito bem frequentado na cidade de Friburgo.  Seus filhos se chamavam João Luiz de Almeida Sampaio e Marina de Almeida Sampaio.

João, ou melhor vovô Sampaio, era um homem de estudo e muito educado. Aos dezenove anos,  foi trabalhar na estrada de ferro que ia até Minas Gerais. Lá, na cidade de Ubá,  ele conheceu uma mulher chamada Jorcelina e se encantou por ela. Jorcelina era filha de uma índia que, em 1850, foi laçada no mato por um português safado que já era casado mas levou a índia para sua casa. Jorcelina então, era uma mistura de índio com português, e, segundo vovó, meio bronca, grossa, sem educação e feia. Mas o que importa é que também se encantou por João Luiz e os dois se casaram. Desse casamento nasceram Maria Augusta, João e José.

A matriarca Carolina, mulher de opinião e personalidade forte, não gostou da ideia quando soube desse casamento. Começou a escrever cartas desaforadas para seu filho. E talvez tenha influenciado muito na desavença entre o casal porque,  ao mesmo tempo, João  também já não estava se entendendo muito com a Jorcelina. Muito irritado e nervoso, pegou Maria (com 9 anos) e João (com 7 anos) e disse que ia dar uma volta. Mas entrou no trem e foi para Campos, ou seja, sequestrou as crianças. Quando Jorcelina soube, pegou o José que era mais novo, entrou no trem e foi para Campos também. Lá chegando, virou para a Carolina e disse: já está criando dois então fica com esse também.  E sumiu no mundo. 

Assim, vovó aos nove anos passou a ser criada por sua avó paterna, que não gostou nada dessa situação. Ela não demonstrava nenhum carinho pela neta e implicava com tudo que a criança fazia. Resolveu então, colocá-la num colégio interno. Tinha condições de pagar mas ao invés disso, conseguiu uma bolsa onde Maria foi estudar em troca de serviços domésticos na cozinha. Era a própria gata borralheira. A avó Carolina tinha netos também da sua outra filha, Marina. E sempre dizia assim: Filhos de minha filha, meus netos são. Filhos do meu filho, serão ou não. Ou seja, para os filhos da Marina, tudo. E para os filhos do João Luiz, nada!

O Colégio Batista, em Friburgo, era um dos melhores do Brasil e vovó teve uma educação da melhor qualidade. Recebia meninas de famílias ricas de todo o país. Com isso, vovó fez amizades com meninas de boas famílias, como Nair de Teffé, Bahut e outras famosas como a esposa do Ministro Hélio Beltrão.

Aqui preciso contar sobre como vovó Maria conheceu o marido.

Vovó tinha um primo que era seu pretendente. Mas um dia, conheceu Francisco com aquele porte atlético, bonito e muito simpático. Então, ela trocou o primo pelo "bonitão" e eles se casaram. Mas acho que a troca não foi muito boa. 

Como já contei antes, Francisco era um mulherengo e abandonou vovó com seis filhos pequenos: Norma, Ivone, Irene, Eunice, Célio e José.

A situação ficou grave quando ela percebeu que ele não voltaria mesmo. Então, vovó foi vendendo coisas de valor que tinha em casa como quadros, louças, moveis, e algumas bandejas de prata. Antes do vovô Chico largar a família, a vida era normal e eu diria que até muito boa, sempre com carne, galinha, macarronada e muita sobremesa, pois vovó era exímia em doces mineiros.

Ela fazia de tudo para manter seus filhos saudáveis. Minha mãe, Norma, aprendeu a costurar e vovó arranjava freguesas amigas para ela fazer vestidos. Essa época foi muito difícil e todo dinheiro que entrava era para colocar comida em casa. E, na maioria das vezes, era só uma sopa ou café com pão. Por sorte, podiam contar com a ajuda do Frei Luiz Reinh que dava sacolas de comida para os pobres. E assim, a família seguia sobrevivendo.

A luta era grande e vovó conseguiu um emprego como cozinheira na casa de uma família rica. Minha mãe ficou com tanta tristeza disso que emagreceu 12 quilos. Ela achou  que era muita humilhação para vovó que sempre pode contar com ajuda de empregadas. Choraram juntas no sofrimento do abandono e da vida que estavam levando.  

Estava duro suportar aquela situação, pois vovó sofria também pela saudade que as crianças sentiam do pai. Os menores não entendiam tudo que estava acontecendo com eles. E vovó ainda tinha esperança que Chico voltasse para casa. Mas isso nunca aconteceu.

Ele levou seis meses sem dar notícias e ,por meio de pessoas conhecidas,  acabou sabendo que ele estava morando com outra mulher e ela já estava grávida.

Vovó não sossegou enquanto não descobriu toda a verdade. Ele se apaixonou pela babá da família onde ele trabalhava como motorista e foi viver com ela. Um detalhe curioso é que também era amante da cozinheira. Com a babá, constituiu outra família e teve um casal de filhos. Mas foi com a cozinheira que viveu até a sua morte.

Acabaram de vez, as pequenas esperanças que ela ainda nutria. Dinheiro nem é bom falar porque nunca mandou nenhum.

Vovó não havia contado para seu pai, vovô Sampaio, nada do que estava passando com seus filhos em Petrópolis. Ela sentia vergonha e dificuldade de comunicar aquela situação para o pai que vivia em Nova Iguaçu/RJ.  Um dia ela se encheu de coragem e escreveu uma carta contando todos os detalhes.  Ao tomar conhecimento da situação da filha e dos netos, meu bisavô, embarcou para Petrópolis assim que leu a carta.

Chegou muito triste e chorou muito com vovó e os netos abraçados. Deu 200 mil réis, que era muito dinheiro no ano de 1934, e prometeu 500 mil réis todos os meses. E assim, as coisas foram melhorando para a família e vovó, que era uma pessoa incrível,  seguiu cuidando da sua família com muita determinação e amor. 

Quando eu era criança adorava receber a visita dela na nossa casa. Aquela visita era pura alegria. Vinha cheia de sacolas com roupas e revistas das primas ricas. E o melhor de tudo, muita história para contar. Tinha uma revista Argentina, "Dona Tremebunda", que era para mim. A mulher tinha os ombros largos como eu e era muito mandona, mas esse não era o meu caso. 

Assim, eu e meus irmãos, fomos crescendo e ouvindo todas as histórias de uma mulher sofrida mas que a vida não conseguiu endurecer seu coração. Era doce e bondosa! deixou marcas profundas em todos que conviveram com ela. 

E sempre cultivou aquelas amizades antigas da época do colégio em Friburgo. Inclusive, quando Paulo, meu irmão, passou para a Polícia Militar, ficou com medo de ser reprovado no exame físico porque estava abaixo do peso. Comentou com a vovó e ela disse que tinha um amigo que era Oficial Médico no Hospital da Policia: o Correntino Nogueira Paranaguá. Paulo falou assim: mas esse é o Diretor do Hospital. E vovó Maria disse: ele carregou as alianças no meu casamento. Deixa comigo. No dia do exame não teve pesagem!!

Dos irmãos que também foram entregues para a matriarca em Campos, pouco se sabe. João foi Sub- Oficial da Marinha de Guerra. Morreu na explosão do cruzador Bahia na costa do Rio de Janeiro no final da guerra em 1945. E José, ainda jovem, foi morar no Rio de Janeiro  e trabalhar em uma padaria na rua Hadock Lobo. Teve tuberculose e morreu em três meses com 32 anos de idade.

Vovó era meu exemplo de vida. E eu sempre pensei assim: quando eu for avó, quero ser igual a ela. E é o que tento fazer por meus netos.


Meu relato:

Esse foi o relato da tia Alice. E concordo quando ela disse que a vovó Maria deixou marcas profundas. Acho que eu tinha uns 13 anos quando ela morreu. Nós estávamos no sítio em Magé e naquela época lá não tinha nem luz, imagina telefone. Lembro que alguém chegou de carro (acho que tia Alice) para contar que ela tinha falecido. Isso foi uns dois ou três dias antes de completar 80 anos. Até hoje eu lembro dela chegando na nossa casa na rua Carvalho Alvim (Tijuca) cheia de sacolas. Ela sempre carregava umas caixinhas de queijo catupiry com coisas dentro. Eu adoro ler e sempre cultivei esse hábito com muito orgulho. O primeiro livro da minha vida foi ela quem me deu de presente: Pollyanna. Eu li várias vezes ao longo da vida e adoro. Também lembro dela me ensinando a fazer crochê sentada no sofá ao meu lado. Um dia eu estava muito triste (não lembro o motivo) e ela apareceu no meu sonho. Já tinha falecido há uns vinte anos, mas no sonho eu abria a porta e ela me abraçava apertado dizendo que estava tudo bem. Ela era muito fofa mesmo.

Francisco Francioni


Relato da tia Alice sobre o Francisco Francioni.

Meu avô Francisco, primeiro filho do casal Oreste e Ernestina, nasceu em Petrópolis no dia 06/01/1899. Aos dezoito anos conheceu minha avó Maria e se casou no dia 19/12/1917.

Quando jovem, aprendeu a dirigir e foi para o Rio de Janeiro trabalhar como motorista profissional para famílias ricas. Naquela época, as famílias mais abastadas tinham casas em Petrópolis para fugir do calor do Rio. Então, ele sempre estava na sua cidade natal durante o verão. 

Uma das famílias era do Sr. Ernesto G. Fontes e a outra era Landsberg. Eram pessoas boas e que nos tratavam com muito respeito. Tanto que quando nasceu o primeiro filho de mamãe (filha do Francisco) ganhou o nome de Paulo em homenagem a um rapaz da família que ela gostava. 

Certa vez, em um período de férias, uma das famílias foi para a Europa de navio e levou o carro. Parecia até o filme do Titanic quando eles guincharam o carro para colocar no navio. Vovô foi junto, claro, e dirigiu durante quatro meses pela Itália e Alemanha. Conheceu várias cidades, culturas diferentes e voltava sempre cheio de novidades. Minha mãe Norma, quando criança, foi a primeira pessoa a usar fecho-eclair em Petrópolis. 

Francisco era um homem bonito, alto, com porte atlético e "se achava". Por causa disso, tinha um grande problema: mulherengo. Vovó começou a ter os filhos e acabou fazendo "vista grossa" para esse comportamento dele. 

Mas um dia, vovó Maria se viu abandonada com seis filhos pequenos. A mais velha tinha 14 anos e o mais novo com apenas quatro. Francisco, simplesmente, desapareceu. Parecia coisa de filme antigo, foi ali comprar alguma coisa e não voltou mais pra casa. Como vovó já conhecia a "figura", desconfiou logo que o sumiço era por causa de alguma mulher.

E estava certa! Vovó ficou sabendo que foi trocada pela cozinheira da família onde Francisco trabalhava. Mas não parou por aí porque na mesma casa ele tinha outra. E depois ainda foi morar com uma outra Maria que morava no Alto da Boa Vista. Mas, como ele gostava de uma aventura, ainda teve uma terceira mulher que morava em Nova Iguaçu. Então ele ia para a casa da filha Norma em Marechal Hermes e escapava para ver a terceira mulher. Norma encobria e ajudava quando a Maria chamava por telefone. 

Apesar de ter abandonado a esposa e criado uma situação muito difícil para todos, os filhos gostavam dele. No final da vida morou um tempo com tio Célio em Petrópolis. Morreu aos 80 anos com um câncer na laringe. 


 


quarta-feira, 8 de setembro de 2021

Oreste Francioni - onde tudo começou



Para escrever sobre o Oreste, eu usei as informações da tia Alice, do meu pai e de uma postagem da prima Edna no facebook. 

Oreste Balthassar Antonius Francioni nasceu em Roma no dia 16/01/1868,  filho de Francisco Francioni e Mathilde Catrachia que moravam na Vla  Margutta 49, plazza del Poppolo em Roma.  Eu sei pouco sobre sua família mas parece que tinha um irmão chamado Nestor. 

Segundo meu pai, Oreste deveria seguir ser no seu ofício de padre para agradar a uma vontade do seu tio. Parece que desistiu e o tio ficou muito triste. Então surgiu a vontade de sair da Itália para o Brasil e desenvolver seu ofício de serralheiro artístico. A situação na Itália, naquela época, era de muita miséria e sem perspectivas para bons profissionais. Não sei ao certo se a razão foi esta mesma mas, depois do embarque para o Brasil teve que ficar na Argentina porque o Brasil não estava aceitando solteiros e sim, famílias. Aquele foi um período da história onde muitos italianos estavam chegando para viver na América na esperança de uma vida melhor. Ao que tudo indica, parece que não se deu muito bem com os argentinos ou não conseguiu trabalho. Um dia resolveu escrever para Carlos, um amigo que estava morando no Brasil. Descobriu então, que as oportunidades de trabalho no Brasil eram melhores. Mas como a legislação brasileira não permitia a entrada de imigrantes solteiros ou sem família. Carlos sugeriu  então, que Oreste se casasse com uma brasileira para poder morar no Brasil. A ideia agradou e perguntou ao Carlos se ele poderia ajudar a encontrar uma esposa que aceitasse casar por procuração. 

Carlos conhecia Ernestina, uma jovem de 26 anos, filha de imigrante irlandês e que estava se sentindo "um pouco encalhada". Ela trabalhava na Charutaria Dunley em Petrópolis. Não sei se era do seu pai,  de um irmão ou tio. O dono da charutaria se chamava Antenor Dunley (tio Nô) casado com tia Lilina e moravam no andar de cima. 

Para agilizar o contato entre os dois, Carlos enviou uma foto de Ernestina para Oreste e fez o mesmo com a foto de Oreste. Ou seja, mostrou para a candidata, noiva do italiano.  Os dois aceitaram a proposta e a documentação do casamento começou a ser preparada.  

O casamento foi realizado por procuração no ano de 1896 e assim, no ano seguinte, Oreste veio para o Brasil. Aqui era conhecido apenas como Oreste Francioni. 

O pai irlandês da Ernestina da Silva Dunley, quando chegou ao Rio de Janeiro, precisou cumprir a quarentena imposta aos imigrantes. Então, ficou um tempo na Ilha de Paquetá. Enquanto estava na ilha, conheceu Carolina da Silva, uma costureira da família imperial, e se apaixonou. Carolina ficou grávida e nasceu a menina Ernestina em 1870.  Depois, o casal com a bebezinha, foi  de barco até Magé e, de lá, pegaram o trem para Petrópolis. A família cresceu e, além de Ernestina, outros filhos chegaram: Antenor (1874), Carlos (1868) e Alexandre (1872).

Quando chegou em Petrópolis, Oreste montou a maior serralheria da região e foi responsável por inúmeras obras como pórticos, portões e grades,   inclusive a do Palácio Imperial. Também fez as grades dos quartéis de São Cristóvão no Rio. Suas outras obras foram: o monumento da águia e da cobra na Praça da antiga Prefeitura; as coroas de ferro e bronze artístico para o túmulo dos Imperadores D. Pedro II e Dona Tereza Cristina; os portões de ferro e os apliques artísticos na Escola Nacional de Belas Artes. Com todo esse talento, recebeu em 1918 uma medalha de ouro na Exposição de Artes Industriais. Ele também era muito conhecido na cidade por fazer parte da Sociedade Italiana de Petrópolis. 

Depois de casados, Oreste e Ernestina, tiveram três filhos: Francisco (1899),  Haydée (1902) e Ernestina (1906). 

Quando o primeiro filho, Francisco)  ainda era criança, o casal viajou para a Itália para visitar a família e apresentar o neto para seus pais. Os italianos acreditavam que no Brasil só tinha negros e índios. Quando Oreste chegou com a esposa Ernestina (uma branquinha filha de irlandês) os parentes começara a gritar: sei bianca!!! 

Alguma das referências sobre a família Francioni relata que o seu pai, que era confeiteiro na Itália, foi quem trouxe o sorvete italiano para o Rio de Janeiro. Encontrei também um outro relato bem interessante que vou copiar aqui: "Oreste Francioni seria padre por destinação da família. Fez estudos bastante adiantados mas, na hora dos votos solenes, não os proferiu. Saiu para a vida leiga, perdendo a herança que seu tio médico e muito rico lhe deixaria caso se ordenasse padre. Foi por esse motivo que, imaginando não desagradar os pais com essa desistência, resolveu residir na casa de seu padrinho que era dono de um fabrico de ferro, onde ele aprendeu a arte que realizou em Petrópolis. Oreste montou a sua Serralheria Artística na Rua 13 de Maior onde, com a subida da Presidente da República para veraneio, ganhou uma clientela de elite nas mansões e palacetes" (história publicada por Edna Francioni em Famílias Italianas de Petrópolis). 

( https://www.facebook.com/comunidadeitalianadepetropolis/posts/428321453941133/ )

Uma conversa que rola na família é que, um dia, Oreste conheceu uma bailarina argentina, juntou  dinheiro e fugiu com ela para Buenos Aires. Ernestina rogou uma praga e disse que ele voltaria doente, duro e de joelhos pedindo perdão. E assim aconteceu. Na Argentina, a bailarina roubou o dinheiro dele. Se virou para voltar ao Brasil, chegou doente, duro e implorou o perdão.

Nos links abaixo existem outras informações também sobre sua profissão e a atuação na sociedade onde vivia. 

https://www.facebook.com/notes/fam%C3%ADlias-italianas-em-petr%C3%B3polis-rj/a-arte-de-ferro-batido-trazida-a-petr%C3%B3polis-por-oreste-francioni/572152972803007/

https://www.facebook.com/comunidadeitalianadepetropolis/posts/428321453941133/

http://memoria.bn.br/pdf/304808/per304808_1896_00103.pdf

https://oglobo.globo.com/rio/bairros/instalado-em-casarao-que-hospedou-princesa-isabel-hotel-solar-do-imperio-completa-dez-anos-15577666




Em 2021, em viagem a Itália, eu e Rafael fomos conhecer a Igreja Santa Maria del Poppolo onde o Oreste foi batizado no ano de 1868.














quarta-feira, 26 de junho de 2013

MINHA VIDA - vovó Norma

História contada pela vovó Norma.

Nasci em Petrópolis no dia 10 de janeiro de 1920. Terminado os meus estudos primários até a 6ª. Série, com 13 anos, sai da escola com diploma de grau 10 com louvor.

Durante os anos que estive na escola eu fazia redações em português enquanto cursava a 5ª. Série. Estas eram tão boas que a Diretora do colégio mandava publicar no jornal da cidade, chamado Tribuna de Petrópolis até hoje existente.

A minha assinatura nesta época era Norma Sampaio Francioni. Vi diversas vezes meu nome no jornal assinando minhas redações.

Não tive oportunidade financeira para fazer o ginásio. Pedi então eu mesma para entrar para a Escola de Música Santa Cecília, para aprender a tocar piano. Fui sozinha e matriculei-me, mas a minha alegria durou pouco. Meu pai deixou mamãe com seis filhos pequenos, sendo eu a mais velha com 14 anos.

 Com a saída de papai, mamãe foi vendendo coisas de valor que tínhamos em casa como quadros, louças, moveis, e algumas bandejas de prata. Antes de papai ir embora, nossa vida era normal e eu diria que até muito boa, sempre com carne, galinha, macarronada e muita sobremesa, pois mamãe era exímia em doces por ser mineira.

Quando acabou o dinheiro, fui tirada da Escola de Música. Fiquei triste, decepcionada e chorei muito. Em vez de piano, eu tive que ir para a máquina de costura onde aprendi a costurar num atelier.

Mamãe me arranjava freguesas amigas e eu tive que trabalhar duro e o dinheiro que ganhava era todo para casa, pois a comida era sopa e às vezes só café com pão.

Nessa época mamãe começou a ir a Igreja onde tinha um Frei de nome Luiz Reinh, muito caridoso que dava bolsas de comida para os pobres, e assim a gente ia vivendo (mamãe era protestante).

Por fim, mamãe foi ser cozinheira de família rica e eu fiquei com tanta tristeza disso que emagreci 12 quilos, pois eu tinha 63 e passei para 51. Achei que era muita humilhação para ela que sempre teve empregadas para ajudar. Choramos tanto, eu e mamãe, que ela acabou não suportando tanto trabalho e saiu do emprego.

Eu não estava suportando mais aquela situação, pois mamãe sentia saudades de papai e os filhos também. Ele levou seis meses sem dar notícias e quando soubemos, por pessoas conhecidas, descobrimos que ele estava morando com outra mulher e ela esperava um filho dele.

 Acabaram as pequenas esperanças que mamãe ainda nutria. Dinheiro nem é bom falar porque nunca mandou nenhum.

 Meu avô Sampaio, pai de mamãe, não sabia de nada que se passava, pois ela sentia vergonha e dificuldade de comunicar aquilo ao pai. Nós morávamos em Petrópolis e vovô, em Nova Iguaçu. Um dia mamãe tomou coragem e contou, através de uma carta, tudo o que estava acontecendo conosco.  Ao tomar conhecimento da situação da filha e dos netos, vovô embarcou para Petrópolis assim que leu a carta.

Chegou muito triste e chorou muito com mamãe e os netos abraçados. Deu 200 mil réis, que era muito dinheiro no ano de 1934, e prometeu 500 mil réis todos os meses.

As coisas melhoraram muito, mas eu, como já tinha diversas freguesas, continuei costurando para fora.

Nesta altura dos acontecimentos completei 15 anos em janeiro de 1935 e no carnaval, dia 4 de março, eu conheci José. Ele gostou muito de mim e eu dele. A princípio fiquei um pouco desconfiada devido à diferença de idade, quase 12 anos mais velho e eu pensava que ele poderia ser casado.

Mas o amor venceu a desconfiança. Mamãe foi tomar informações dele no Palácio Rio Negro em Petrópolis onde ele trabalhava quando o Presidente Getúlio Vargas ia passar o verão na cidade.

Nos outros meses, ele trabalhava no Palácio Guanabara no Rio de janeiro. Ficamos mais tranquilas quando soubemos que ele não era casado. Nos víamos sempre aos domingos depois que o verão acabou.

Assim foi o nosso namoro. Na sala, com mamãe e vovó Titina (mãe do meu pai) que morava conosco e sempre nos vigiando. Quando uma saia da sala ficava a outra e vice versa.

 No dia em que completei 16 anos, 10 de janeiro de 1936, ficamos noivos e em 20 de julho do mesmo ano, casamos. Fomos morar em Nova Iguaçu junto com vovô Sampaio.

No dia 20 de abril de 1937 nasceu Paulo, meu primogênito. Estava com 17 anos e já tomando conta da casa, cuidando da criança e o pior é que eu não tinha prática de nada e me embaralhava toda.

Sempre fui chorona e ficava nervosa por não saber lidar com a casa. Tinha um balanço no quintal, numa árvore nos fundos da casa, e quando Paulo dormia eu corria para o balanço e deixava a comida queimar na panela. Aí eu chorava com medo de José brigar comigo porque não sabia fazer nada.

Ao contrário, nunca brigou comigo por causa disto e arranjou uma empregada de seus 35 anos para trabalhar e me ensinar. Aprendi aos trancos e barrancos, os anos passaram e a vida se acomodou.

 No dia 23 de dezembro de 1939, nasceu Vera Regina. Depois, no dia 2 de outubro de 1944 nasceu Alice e no dia 08 de novembro de 1949, nasceu Silas.

Procurei fazer minha parte, sempre ajudando no orçamento doméstico com minhas costuras, vendendo doces em casa, objetos de miniatura japonesa, etc.

Hoje estamos casados há 64 anos, felizes graças a Deus apesar dos problemas de saúde que temos.

São 12 netos, 8 bisnetos, 2 noras, 2 genros e ainda Edson, casado com Carla, Daniela casada com José Paulo, Celi casada com Gustavo, Kelly casada com Flávio e Isabel casada com Fernando César.

                Graças a Deus que até aqui nos ajudou. Amém!

Relato da tia Alice sobre a vovó Norma:

Minha mãe casou-se aos 16 anos e teve 4 filhos: Paulo, Vera Regina, Alice e Silas

Teve muito êxito como mãe, todos os filhos foram estudiosos e nunca teve maiores problemas com a gente. Não era muito afetuosa conosco, era mais preocupada com a nossa saúde, alimentação, e educação. Também não era de passar a mão na cabeça se fizéssemos alguma coisa errada.

Acho que o grande mérito de mamãe foi sua generosidade. Morávamos em MH numa rua que seria hoje um conjunto habitacional para os funcionários públicos. Porém, eram casas boas , com grande quintal e 3 quartos. Uma moradia digna. Ocorre que a grande maioria dos moradores eram pessoas muito mais simples que nós. Família numerosas com 10, 12 e até 20 filhos. Com isso, as mães não se preocupavam ou não tinham tempo para mandar os filhos pra escola. No máximo faziam o primário (hoje até a quinta série). Quando algum vizinho adoecia ou uma mãe ia parir, logo chamavam mamãe para ajudar.

Tinha uma veia artística muito grande. Era poetisa, compositora e cantora. Adorava cantar e ler a revista "Reader Digest", uma espécie de google de hoje em forma de revista. Era primorosa na costura, na cozinha, como vendedora ou o que precisasse fazer em tempos de vacas magras. 

Acolhia a todos que precisassem de um abrigo ou de um prato de comida. Enfim, cumpriu muito bem seu papel de mãe, esposa e ser humano. 


MEU MARIDO JOSÉ - vovó Zé

História contada pela vovó Norma sobre o seu marido.

José de Moraes Sarmento, meu marido, nascido no dia 31 de agosto de 1908 em União dos Palmares, Alagoas, mas foi criado no interior do Estado. Um pouco em União, Rio Largo, Palmeira dos Índios, Bebedouro e também Maceió, a capital. Seus pais eram alagoanos. O pai chamava-se José de Moraes Sarmento e a mãe, Maria Olindina Amorim Sampaio.

A adolescência de José não foi muito alegre, pois aos 17 anos, sua mãe faleceu prematuramente deixando quatro filhos menores: José, Lindinalva, Napoleão e Nestor, os dois últimos já falecidos.

Sem saber o que fazer e sem muita orientação, aceitou um emprego para extrair borracha (seringueiro) no Alto Amazonas. Foi com um grupo de pessoas desconhecidas que se uniram depois no trabalho.

Foi enganado e ficou desiludido. Os patrões (donos da área onde tinha o seringal) exploravam os empregados, pois vendiam os gêneros que eles necessitavam e o salário nunca era suficiente para pagar a dívida que aumentava constantemente, fazendo com que o empregado se transformasse na prática num prisioneiro do patrão.

Passou muita fome na mata e teve que aprender a caçar e pescar para superar as dificuldades da vida que levava. Comeu vários bichos inclusive macacos.

Permaneceu no local por quatro anos e resolveu fugir, pois não havia como se livrar da dívida com o patrão. Era uma empreitada arriscada porque se fosse pego, sofreria maus tratos e poderia até “desaparecer”.

Aliou-se a um casal conhecido e após planejarem a fuga, iniciaram o regresso, remando a noite e escondendo-se na mata durante o dia. Depois de mais de um mês de peripécias, chegaram a Belém do Pará onde cada um foi cuidar da sua vida.

José foi trabalhar na Ford que possuía alguns empreendimentos na Amazônia. Ficou cerca de três anos por lá até que foi chamado para o Exercito com a possibilidade de vir para o Rio de Janeiro, o que foi aceito.

Chegando ao Rio, foi servir na Vila Militar (cavalaria) e morar em Bangu. E lá iniciou um longo romance com o clube de futebol local, o Bangu Atlético Clube, sendo provavelmente o seu mais antigo torcedor.

Na Vila Militar José conheceu o oficial Dr. Luthero Vargas, já falecido. O Dr. Luthero era filho do então Presidente da República, Getulio Vargas. Luthero nessa época prestava o serviço militar como oficial de reserva e posteriormente formou-se em medicina, na Alemanha, tendo se tornado um ortopedista de renome.

José passou a trabalhar para o Dr. Luthero como cavalariço ou ordenança como é mais conhecido. Dr. Luthero gostou muito dele e iniciou-se ali uma longa amizade que rendeu muitos frutos a José. 

Graças a esta amizade, ao dar baixa no exercito, José foi nomeado funcionário da Central do Brasil. Posteriormente foi deslocado para trabalhar no Palácio do Catete, sede do Governo Federal, onde continuou servindo ao Dr. Luthero e à família Vargas.

Prestes ao nosso casamento em 1936, José recebeu de presente do Dr. Luthero, uma nomeação para a Alfândega do Rio de Janeiro, onde trabalhou até se aposentar.

Dr. Luthero ingressou também na carreira política sendo eleito Deputado Federal e José trabalhou muito para ele, inclusive montando um escritório eleitoral em nossa casa, visitado em várias ocasiões pelo Deputado.

José teve no Dr. Luthero o seu anjo protetor em termos profissionais e em contrapartida ajudou-o também na vida política e foram muito amigos até o falecimento do Deputado.

Finalizando, direi que Deus não poderia ter me dado melhor companheiro na minha vida. Bom esposo, dedicado demais a família, pai amoroso e avô coruja de seus netos.

Infelizmente a doença vem gradativamente privando-o das coisas boas da vida, culminando com a perda da visão nos últimos cinco anos. Todos nós, esposa, filhos, netos e até sobrinhos têm procurado com suas presenças proporcionar a ele o conforto espiritual que tanto necessita para enfrentar esta fase da vida.

Tenho ficado sempre ao seu lado pois ele sempre foi muito carinhoso e querido por mim. Eu o amo muito!

Texto da tia Alice:

Meu pai nasceu em União dos Palmares, filho de José de Moraes Sarmento e Maria Olindina Sarmento.
Seu pai foi um simples alferes (acho que correspondia hoje a um soldado da PM). Era um coroa bonito, alto, olhos azuis e totalmente diferente de papai que era quase um caboclo. Tanto que quando mamãe o apresentou a sua família (os Francioni), seu avô italiano disse que ela não se casaria com um negro. 

Bem, papai contava que foi um moleque muito arteiro. Fugia para mergulhar na lagoa de Mundacui (??) e por isso sua mãe batia muito nele. Papai não se referia a mãe com muito amor. Mas, apesar disso, quando ela morreu aos 36 anos, ele que levava muito jeito com carpintaria, fez seu caixão.

Com seis meses de viúvo, meu avô casou-se de novo. Aí meu pai ficou muito enfurecido e saiu de casa aos 16 anos. Levou 10 anos se aventurando pelo Brasil a fora, como seringueiro no amazonas, por exemplo. Até pegar um ita na Bahia e chegar ao Rio de Janeiro de Getúlio Vargas.

Ao chegar aqui foi para Realengo se alistar no exercito. Nessa época, Luthero Vargas, filho de Getúlio, fazia medicina e CPOR justo para onde mandaram papai. Então, se tornou cavalariço dele e seu protegido também.

Quando Luthero terminou seu serviço militar, resolveu levar papai consigo e colocá-lo no Catete (residência oficial de Getúlio), como copeiro dele. Como Getúlio passava as férias de verão em Petrópolis, todos do palácio iam com ele. E foi assim que conheceu mamãe num carnaval. Como presente de casamento, Luthero o nomeou para a alfândega do Rio, onde ficou até sua aposentadoria.
Morreu aos 98 anos.

História que meu pai me contou:

Quando meu pai tinha 4 anos, um dia seu pai chegou muito irritado do trabalho. O chefe tinha feito uma reclamação e falou alguns desaforos para ele. Escutou calado mas saiu jurando vingança. 

Em casa, começou a fazer uma vara (tipo chicote) com arame. Saiu de casa decidido a se vingar, apesar de vovó Norma ter pedido muito para ele não fazer isso. Trabalhou e, no final do dia, esperou o chefe na esquina e deu a maior surra. No dia seguinte foi trabalhar como se nada tivesse acontecido. E é claro que foi preso. Como não voltava pra casa, a vovó Norma começou a se preocupar. 

Acabou descobrindo que ele estava preso mas não pode fazer nada. Junto com a vovó Maria, resolveu procurar o Doutor Lutero no Palácio do Governo. Este quando soube, prontamente resolveu ajudar. Foram juntos para a delegacia mas o delegado não estava. Descobriram que ele estava assistindo um jogo no campo do Vasco. Na mesma hora o Doutor Lutero ligou para o campo e mandou que o recado fosse dado. O funcionário anunciou no auto falante durante o jogo, para todos ouvirem, que era para o delegado voltar para a delegacia com urgência e ele foi solto.

Ele contou que foi preso no Dops e lá ficou com os presos comunistas que tinham sido torturados. Muitos sem as unhas dos pés e das mãos. Ele ficou com esses presos porque era funcionário público


Aniversário de 90 anos ao lado da vovó norma, o neto Pedro e os bisnetos Gabriel, Guilherme e Eduardo

Aniversário de 90 anos ao lado da tia Regina e as netas Luiza e Maria Letícia



MEU FILHO PAULO

História contada pela vovó Norma

Final de gestação, vovó e mamãe estavam comigo a postos. Sabem como é...primeiro filho, primeiro neto, primeiro bisneto. As primeiras e fracas dores começaram domingo 18 de abril de 1937. Amanheci com um peso nos rins e nas pernas. Após o almoço senti dores leves horizontais no baixo ventre irradiando para os rins. As duas avós disseram: é pra hoje!!!

Chamaram logo a parteira, D. Joaquina que já estava tratada. Ela chegou, examinou e disse: é, começou o trabalho de parto mas isso ainda não é pra hoje, deve ser para amanhã a tarde mais ou menos.

Sentia as dores com um sentimento de medo misturado com alegria. Às vezes paravam um tempo, duas horas mais ou menos, para recomeçarem com mais intensidade. Resumindo, passei o domingo e na segunda, as dores violentas chegaram após meia noite de segunda para terça feira.

Justamente às 03h20 da madrugada, no dia 20 de abril, nasceu meu primogênito Paulo. Alegrias!! Todo mundo chorando, me abraçando, dizendo palavras de amor e carinho para mim e meu filho.

Nasceu magrinho, com 2,8kg e muito comprido. Quando o trouxeram de banho tomado, aquela trouxinha tão amada foi que eu tive uma crise de choro com ele em meus braços.

O pai, num canto do quarto, rindo e as lágrimas descendo dos olhos. Primeiro filho homem! Para ele foi uma glória e deixava isto transparecer a todo o momento.

O nome eu escolhi para homenagear um grande amigo nosso de muitos anos. Passado um mês, vovó regressou a Petrópolis com mamãe. Logo depois mamãe voltou para morar conosco uns tempos para me ensinar a lidar com o neném. Trouxe quatro filhos, meus irmãos menores e que foram Yvone, Eunice, Irene e José, tendo deixado meu irmão Célio em Petrópolis morando com os avôs.

Bem, o assunto é Paulo. Ele foi crescendo e eu aprendendo como criá-lo através dos sábios ensinamentos de mamãe.

 Andou com nove meses e já estava mais gordinho. Aos onze meses teve sarampo o qual eu também tive aos 18 anos. Quando fez um ano estava curado e comemoramos alegres com a família toda.

Foi crescendo, muito inteligente, aprendia rápido o que lhe ensinava. Aos seis anos foi para a primeira escola. Nesta época estávamos morando em Olaria e já tínhamos a segunda filha, Vera Regina com três anos e pouco. Mamãe já não morava conosco, pois tinha voltado para Petrópolis.

Veraneávamos todo ano em casa dela. Voltando a Paulinho, eram só elogios que recebíamos dos professores.

Fomos morar em Niterói e ele foi matriculado numa escola particular de D. Amenaide, a qual ficou encantada com ele, aprendendo e cumprindo todos os deveres. Depois foi para outra escola no Cubango, num lugar chamado “Venda das Mulatas”, onde continuou a receber elogios como sempre.

Em Niterói tive minha terceira filha Alice e quando ela fez três anos, compramos uma casa em Marechal Hermes, onde nos instalamos em 1947. Matriculei Paulo e Regina na escola pública Santos Dumont. Os dois irmãos também fizeram bonito nessa escola, cuja professora Da. Dagmar, gostava muito dele e ele também dela.

Terminado o primário, Paulo fez concurso para a Escola Técnica Visconde de Mauá, tendo sido aprovado e matriculado no primeiro ano ginasial. Lá, completou o ginasial e estudou a profissão de carpinteiro, pois todos os alunos tinham que aprender uma profissão.

Formado, aos quinze anos, empregou-se num escritório de contabilidade de um contador chamado Jair do Canto Abreu onde durante um ano aprendeu os fundamentos da contabilidade. Paralelamente  trabalhava também na farmácia São Luiz que ficava embaixo do escritório. Os donos da farmácia eram o senhor Luiz Barone e Edgar Corrêa que ficaram muito amigos de Paulo.

Com o salário de 800,00 cruzeiros que ganhava, matriculou-se no colégio Arte e Instrução, em Cascadura para fazer o curso Científico (segundo grau). Pagava 600,00 cruzeiros de mensalidade e gastava o restante em passagens e pequenas despesas. Não havia inflação e era possível planejar as despesas. O ano era o de 1952.

Eu costurava para fora e ganhava um dinheiro extra que usava na compra de tecidos para fazer as camisas que ele usava e pagava a outra costureira para fazer as calças.

Terminado o científico em 1955, com boas notas, engajou-se no Exército, servindo no CPOR. Durante os anos de 55 e 56, já trabalhava para um amigo do pai, Guilardo Moreira da Rocha onde cuidava dos negócios deste senhor, fazendo pagamentos, cobranças e controles financeiros. A serviço deste senhor, viajou para os EUA, Miami, em novembro de 1956 para efetuar compras de produtos que não existiam no Brasil.

Matriculou-se no curso vestibular para Medicina, que era o seu desejo maior mas por causa da viagem aos EUA, acabou desistindo dos exames. O seu grande amigo Walterlino Gomes da Silva fez o concurso e é médico pneumologista

No CPOR, conheceu alguns colegas que estavam se preparando para o concurso da Escola de formação de oficiais da polícia militar do Distrito Federal (RJ) e resolveu estudar com eles. Fez o concurso e foi aprovado em 11º lugar. Pediu baixa da CPOR em fevereiro de 1958 e ingressou na PM em quatro de março de 1958.

Na PM conseguiu boas notas e foi o primeiro colocado no primeiro ano do curso, mantendo esta posição nos outros dois anos e saindo Aspirante a Oficial em primeiro lugar, em dezembro de 1960.

Recebeu todos os prêmios destinados ao aluno melhor colocado em notas e aproveitamento geral. Sua espada foi-lhe entregue pelo primeiro governador do Estado da Guanabara, senhor Carlos Lacerda. Recebeu ainda a medalha de ouro Duque de Caxias, uma caneta, um relógio de ouro e 10, 000 cruzeiros da CEF.

Aspirante aos 23 anos, já estava noivo de sua futura noiva, Neusa Nogueira Tavares, uma nora muito querida, com quem casou em 13 de maio de 1961.

Tiveram três filhos: Carla, José Paulo e José Carlos os quais já casados propiciaram ao casal cinco netos: Gabriel, Guilherme, Rafael, Eduardo e Bruno.

Paulo após o casamento prosseguiu nos seus estudos à noite tendo feito as Faculdades de Administração e depois de Engenharia Elétrica. Posteriormente fez o Mestrado em Administração pois dedicou-se desde 1975 a lecionar nos cursos noturnos das faculdades.

Prosseguiu sua carreira na Polícia Militar, servindo também no Departamento de Telecomunicações do Estado/Detel, onde por quinze anos desenvolveu um trabalho que lhe rendeu muito prestígio e muitos amigos.

Galgou todos os postos da carreira militar tendo chegado ao posto máximo de coronel, reformando-se em setembro de 1990.

Prosseguiu nas suas atividades de professor, lecionando e coordenando curso superior, estando hoje na Universidade Castelo Branco.

Tem sido um filho muito dedicado, amoroso e muito amigo. Feliz e com orgulho, devo dizer. “Louvado seja o nome de Deus que nunca nos desamparou”

segunda-feira, 24 de junho de 2013

MINHA FILHA REGINA


História contada pela vovó Norma

Depois do nascimento do meu primeiro filho, ainda moramos dois anos em Nova Iguaçu. Após este tempo, compramos uma casa em Nilópolis mas não moramos muito tempo lá. Vendemos a casa e fomos morar em Petrópolis, na casa da minha mãe no bairro do Bingen porque eu estava grávida pela segunda vez.

No dia 22 de dezembro à noite, comecei a sentir as dores do parto e meu irmão Célio foi chamar Dona Leonor, a parteira. Quando ela chegou por volta das 21 horas eu já estava com muitas dores. Ao me examinar ela disse que até meia noite ou mais tardar uma hora, eu estaria livre.

Deu uma hora da manhã, as dores aumentando e os intervalos das contrações cada vez menores. Dona Leonor, já preocupada examinou-me outra vez e falou para meu marido José ir buscar um médico no Hospital Santa Tereza, que ficava próximo de casa.

José perguntou o que estava acontecendo e ela respondeu que a criança estava atravessada na barriga. Disse que sabia fazer o parto, mas que seria muito sofrido porque teria que fazer a criança voltar à posição normal.

O que ficou decidido então é que ela faria o serviço. Então, cada vez que ela introduzia a mão para ir puxando a criança para a posição normal, eu sofria demais, já estava esgotada e só gemia, não gritava mais. Por diversas vezes via tudo escuro mas finalmente, às 07h15 da manhã de 23 de dezembro de 1939 nasceu Vera Regina.

Nesta hora, além da escuridão, vi também estrelas luminosas piscando, verdadeiramente vi estrelas. A parteira pegou a menina e disse: está morta! E deixou-a junto a minha perna esquerda enquanto me dava mais atendimento. Neste momento, senti feito uma raspadinha na minha perna. Levantei a cabeça e vi a perninha da minha filha mexendo. Disse rápido: ela está viva, está viva!

Foi um corre-corre. A parteira levantou-se rápido segurando-a pelos pezinhos e de cabeça para baixo, dando-lhes fortes palmadas. Foi aí que depois de levar umas quatro palmadas que o choro saiu. Depois de tomar banho, com água fervida, álcool e iodo, ela me deu banho e em seguida trouxe a minha segunda trouxinha para que eu visse.

Chorei muito, de admiração, amor, ternura e muitos sentimentos que só as mães sabem como é.

Era lindinha, gorda, de carinha redonda, olhos abertos e grandes, bem separados e estavam me admirando também. Ficou quietinha mas já chupando os dedinhos. Dona Leonor disse: o que você está esperando? Dê de mamar a ela que está com fome e este primeiro leite tem colostro que limpa o organismo e protege contra as doenças nos três primeiros meses.

Ela mamou bastante, arrotou forte, ficou piscando os olhinhos e adormeceu feliz, mas cansada. Sofreu bastante para ver a luz do mundo mas enfim, sentiu-se segura nos meus braços.

No dia seguinte, véspera de Natal, mamãe e Célio levaram-na para pesar no hospital. Tinha cinco quilos só de fralda, quase o dobro do meu primeiro filho que tinha menos de três quilos quando nasceu.

Passei o Natal com ela. Eu tomando canja de galinha e ela mamando bastante.                 Paulinho ficou só na beira da cama me beijando e querendo deitar junto de Regina e não teve ciúmes pelo contrário, ficou bem alegre chamando as visitas para verem o neném.

Regininha, com três meses foi batizada. A madrinha foi Nossa Senhora da Penha, representada por mamãe e Célio meu irmão, o padrinho.

Cada vez mais gordinha e muito gulosa, foi crescendo e dando os primeiros passos que foram dentro de um navio chamado Itanajé quando viajamos os quatro, para Maceió, terra do pai. Ela estava com dez meses.

Foi crescendo, teve algumas doenças próprias da infância mas nada de grave. Entrou para a escola, foi bem aplicada e fazia os seus deveres com atenção. Era teimosa e vaidosa com as roupas que vestia. Ela é quem escolhia as roupas que iria usar. Se eu teimasse em colocar do meu gosto não havia acordo e ela saía vencendo.

Havia divergências entre eu e ela porque somos do mesmo signo, capricórnio, e o ditado “dois bicudos não se beijam”, cabia muito bem para nós. Mas sempre houve amor de ambas as partes.          

Sofreu diversas operações. Na infância foram as amídalas e na adolescência o apêndice. Ficou uma mocinha linda e era admirada por todos que a viam. Começaram a aparecer os paqueradores.

Formou-se professora pela Escola Normal Carmela Dutra em dezembro de 1960.

Ditava a moda com vestidos elegantes e modelos exclusivos de figurinos franceses que eu comprava. Nunca deixei de costurar e quando ela cismava que tinha que botar um determinado modelo do figurino, eu tinha que ir rápido comprar o tecido, sentar na máquina e aprontar.

Foi princesa da primavera do Marã Tênis Clube e era mais bonita que a rainha e a mais bem vestida.

Namorou, paquerou e aos 22 anos casou-se com João Batista Seixas do qual se divorciou mais tarde, tendo o casal tido dois filhos, Gustavo Alberto e Flávio Henrique. Gustavo formou-se na Marinha Mercante, casou-se com a Celi e tem uma filha chamada Gabriela que é muito despachada. Flávio casou-se com a Kelly e tem dois filhos, Lorena e Danilo que são muito bonitos e simpáticos.

Posteriormente conheceu um viúvo, o Ércio que tinha sido seu conhecido na mocidade e resolveram unir-se, tendo desta união resultado o nascimento dos gêmeos Jonas e André que vivem junto com ela.

Após o divórcio com Seixas, fez faculdade na UERJ, formando-se em Geografia. Trabalhou lecionando em escolas da rede pública e também no Colégio Pentágono, na Vila Valqueire. Posteriormente conseguiu transferir-se do quadro de professores para o quadro de fazenda do município do Rio, onde veio a aposentar-se no início da década de 90.

Logo após sua aposentadoria, sofreu uma queda ao tropeçar num cachorro, dentro de casa em Marechal Hermes, Sofreu muito com esta fratura pois os médicos custaram a diagnosticá-la. Felizmente foi operada no Hospital da Polícia Militar e colocou uma prótese total de quadril. Ficou com sequelas que periodicamente lhe trazem grande desconforto e dores.

É católica praticante, tendo frequentado durante muitos anos a Igreja de Nossa Senhora das Graças em Marechal Hermes, onde sempre trabalhou para amparar os pobres.

Posteriormente adquiriu um apartamento na Tijuca, onde reside até a presente data com seus filhos gêmeos que já estão com 22 anos.

É uma pessoa muito caridosa, muito boa filha, mãe e amiga dos pais e irmãos.

Peço a Deus que lhe dê saúde, paz e coragem para enfrentar as dificuldades da vida porque Ele venceu o mundo e para ela assim será.


Graças a Deus que nunca a desamparou. Beijos da mamãe!